sábado, 29 de dezembro de 2012

Pop art pode ser boa...

Enkel Dika é um ilustrador cuja obra brota na mesma medida que as referências do mundo pop contemporâneo lhe entram cabeça a dentro.

Tenho a imagem de uma linha de montagem de ilustrações, bem dentro da concepção de sua arte - sonhos, personagens reais, de ficção, filmes, animais, mitos, trabalhos de outros artistas, tudo isso entra por um ouvido, feito um turbilhão, e sai pelas suas mãos transformados em desenhos com estilo sintético, por vezes, como a linguagem da arte gráfica; outras vezes, numa pegada à la Escher, cheia de detalhes e ilusões de ótica.

(e suas obras podem ser adquiridas de forma acessível, pela internet, a preços honestos e nos formatos mais variados, como t-shirts, capas de celular, pôsters).  

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

A vida é arte...









As fotografias de Tina Modotti têm um estilo sóbrio, uma composição moderna e um olhar engajado.
Tina Modotti deixou vários legados. Lembramo-nos primeiro de sua obra fotográfica, depois pensamos na ativista política, depois na agitadora cultural da cena mexicana do final da década de 20, e depois na anfitriã do casório de Diego Rivera e Frida Kahlo, e, só depois, na menina italiana que migrou para a Califórnia, e então para o México, e viveu sua vida de maneira impulsiva e intensa. 

Antes de se mudar de vez para o México, Modotti atuou em Hollywood na época do cinema mudo. Foi quando conheceu o fotógrafo Edward Weston, de quem foi amante e aprendiz. Ambos viajaram por todo o país, que, na época, além de vibrar com uma vanguarda artística engajada, adotou vários intelectuais e artistas foragidos das turbulências políticas européias e latino-americanas.

Enquanto Weston se fartava com o lado etnográfico da cultura mexicana, Modotti preferia um olhar mais moderno, seco, focado nas duras condições sociais que encontrou no interior do país. Daí sua aproximação com o movimento muralista da época, e o registro feito das obras de José Clemente Orozco e Diego Rivera. 

E foi como amiga de Rivera que Modotti aroximou-se da jovem Frida Kahlo, tornando-se também amiga e confidente desta última. 

Tanto que, em 1942, quando Tina Modotti retorna ao México para rever a amiga de tantos anos, mal sabia que não chegaria a reencontrá-la. Sua morte precoce aos 46 anos, de falência cardíaca, ocorreu em 5 de janeiro daquele ano, logo após a sua chegada. E até hoje continua envolta sob suspeitas de assassinato por motivações políticas.

Adriana e o varejo...

2012 foi um ano bom para as artes visuais. A começar pelo final, a excelente bienal, que, apesar de extensa devido à quantidade de obras por artista, teve uma curadoria coesa e consistente. 

Mas tivemos Wolfgang Tillmans no MAM; Cruz-Diez, na Pinacoteca; as estátuas suicidas de Gormley no CCBB; Caravaggio, no Masp; Lygia Clark, no Itaú Cultural. Todas exposições dignas de nota. 

Também no MAM de São Paulo (Museu de Arte Moderna, localizado no Parque do Ibirapuera), houve também - nem sei se ainda está em exibição - uma retrospectiva da obra da carioca Adriana Varejão, uma das mais celebradas artistas plásticas da nova geração, já bastante valorizada no mercado internacional das artes. 

A mostra de Varejão me chamou a atenção por três razões, de certa forma, todas elas interligadas à forma como eu percebo a trajetória de seus trabalhos. 

Primeiro, a importância de haver um curador que conceba uma retrospectiva com base num fio condutor que destaque o melhor - leia-se, o mais significativo, a contribuição mais original - do trabalho de um artista. Nesse caso em especial, a temática do corpo em pedaços, da sexualidade/violência, inserida no contexto da cultura brasileira, são o mote da arte de Varejão. Há extenso uso das referências culturais de nossa colonização - o azulejo português, a pintura sacra, ex-votos, os mapas de época, o decorativismo, a perspectiva dos artistas estrangeiros sobre nossa cultura miscigenada - tudo isso aderido a uma sociologia do que resultou nossa identidade brasileira - o azulejo vira revestimento frio de hospital, com vísceras e órgãos expostos; vira sauna ou matadouro, numa referência a Moebius; os mapas apresentam feridas de sangue; as frutas tropicais lembram mucosas, tecidos humanos. 

A segunda coisa que se destaca, na minha visão, é como esse excesso de referências de que Varejão se vale para construir sua obra a torna, num certo sentido, menos original. Explico melhor: são referências que permeiam a obra de inúmeros artistas contemporâneos pois tratam de um universo compartilhado, à disposição de todo artista, referências acessíveis e reconhecidas por culturas afins. Indo mais fundo nesse mesmo argumento, é uma opção por arriscar menos, por trilhar o já conhecido, no sentido de tornar sua obra mais padronizada - e aí, talvez, mais aceita e valorizada em termos de mercado, monetariamente (deixo a questão para discussão).

Por fim, nota-se um desenvolvimento nas técnicas utilizadas pela artista carioca em suas obras. À medida que se tornam mais complexas - e, ao mesmo tempo, sua execução tem de ser feita mais rapidamente, pela demanda de exposições pelo mundo - seus trabalhos necessitam de uma equipe cada vez maior e especializada. Adriana Varejão assina obras que são executadas por um grupo de outros artistas, artesãos, serralheiros, marceneiros, carpinteiros, todos envolvidos em viabilizar de uma forma mais apurada e eficiente o conceito dado por ela. Não se trata, obviamente, de uma exclusividade dela; as artes visuais sempre dependeram, em menor ou maior grau, de um coletivo de co-autores para se concretizar. A diferença é que a profissionalização não apenas do artista-mãe mas também dos ofícios de apoio se tornou algo mais visível e palpável nos dias de hoje. Dificilmente um artista contemporâneo não compartilha suas ideias com outros artistas colaboradores para materializar da forma mais próxima a seu conceito sua obra. 

Tudo isso para concluir que o êxito de Adriana Varejão tem uma orquestração por detrás - curadores, referências, equipe. Há um propósito nisso - a obtenção de uma qualidade, de um selo, como o de uma repercussão mercadológica. Nada de errado. 
As fotos referem-se às obras reunidas na retrospectiva de Adriana Varejão no MAM-SP...

O CCBB e os melhores de 2012

Banner na fachada do prédio do CCBB de São Paulo, reprodução da obra de Édouard Manet, também capa do catálogo da mostra "Impressionismo - Parias e a Modernidade"
O Guia da Folha de São Paulo publicou hoje a seleção dos melhores de 2012, isto é, as atrações culturais e de lazer mais votadas pelos leitores do jornal. Como melhor exposição de arte, o CCBB-SP levou o "prêmio" pela mostra "Impressionismo - Paris e a Modernidade". De fato, merecido, pois se trata de reconhecer o imenso esforço de costura institucional feito entre um centro cultural nacional e um museu da estatura e fama do D'Orsay de Paris. Isso sem mencionar toda a questão de logística, produção, seguro, segurança, e organização das visitas. 

O CCBB de São Paulo, em conjunto com os demais centros culturais do Banco do Brasil espalhados entre Rio, Brasilia, e o recém-inaugurado de Belo Horizonte, têm mostrado um trabalho consistente não apenas no âmbito das artes visuais, mas também nas artes cênicas, mostras de cinema e eventos literários, como palestras e mesas redondas, bate-papos com autores e artistas em geral. 

Pode-se fazer uma crítica à linha curatorial escolhida pela instituição: de que ela tem privilegiado exibições de grande impacto midiático, com retorno garantido de marketing indireto para o banco, em vez de fomentar artistas menos conhecidos. Ok. Mas penso que, dentro das limitações de minimização de riscos impostas por uma organização financeira, o que os CCBBs vêm fazendo tem sua dose de ousadia. Sobretudo no quesito formação de público, dando a oportunidade ao espectador em geral de apreciar não apenas obras consagradas que raramente poderão ser revistas no país, como a dos impressionistas, como também trazer ao conhecimento do grande público nomes de grande estatura conceitual e formal da artes visuais contemporânea como a alemã Rebecca Horn e o inglês Antony Gormley, por exemplo (houve ainda a expo do Escher, e temos a que está atualmente em cartaz, muito bem alinhavada em termos de concepção).

A meu ver, é dever de um centro cultural com essa envergadura tornar as artes visuais acessível ao grande público. Mostrar que é apenas uma questão de hábito formarmos nosso gosto estético, aprendermos a apreciar arte. Não há nada de intelectualizado nisso. Por isso, não ratifico opiniões dadas por alguns críticos de que o CCBB torna a arte pop, vulgar, pelo barulho causado pela mostra dos impressionistas. Ter contato frente à frente com uma tela de Degas, de Monet, vários Renoir, é um privilégio que não deve ser restrito a poucos.

Defendo a desmitificação do objeto artístico. Não em seu encantamento, em seu conteúdo e forma, mas no seu caráter de acessibilidade e comunicação com o espectador. Arte não é coisa de outro mundo. É coisa do mundo de cada um de nós, desde o crochê das nossas avós até as esculturas monumentais de Gormley (que, para mim, foi o destaque das exibições feitas pelo CCBB esse ano). 

De qualquer forma, parabéns ao centro cultural do Banco do Brasil. 

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Entre Arte, Moda e Cinema...



testmag.co.uk é uma produtora de filmes de moda... Jaime Perelman fala de sua parceria com a marca Costume National, para desenvolver campanhas que vão além do mero catálogo de moda... 

Fashion art...



A marca italiana Costume National faz roupas e acessórios para mulheres e homens. E também faz arte. Um conceito que funde cinema, moda, animação, ilustração, fotografia em algo outro, novo, que busca criar uma nova identificação da marca com seu consumidor. Sob esse novo conceito de branding, a Costume National não está sozinha; outras marcas vem buscando uma identidade mais artsy com seus compradores, isto é, a criação de um mundo estético no qual produz-se obras de arte, em vez de um catálogo comum de  produtos em display habitual.

Para o lançamento da coleção outono/inverno 2012/2013 da Costume National, a designer britânica Margot Bowman criou uma animação com o título de "Keep it under your Hat" ("Mantenha-o debaixo de seu Chapéu"), um híbrido de ilustração, música e animação que procura dar o tom da atual coleção dentro do ethos da marca Costume National. Trata-se de um vídeo de 1 minuto e 45 segundos, no qual os personagens se veem bombardeados por um mundo sem privacidade e de excesso de informação. Conscientes dessa pressão por compartilhar, mostrar, exibir, eles preservam suas emoções e sonhos longe desse bombardeio, debaixo de seus chapéus, óculos, proteções de PVC e roupas de materiais tecnológicos e corte assimétrico. Como se elas protegessem a essência de seus usuários de qualquer tipo de exploração indevida, de algum risco de perda de identidade. Belo e inteligente. 

Vai aí uma mostra do desfile da coleção feminina outono/inverno 2012/2013 da Costume National:

A tal da liberdade...

O escritor norte-americano, Jonathan Franzen, autor de "Liberdade", publicado no Brasil, em sua mais recente edição, pela Companhia das Letras (vide capa abaixo)
Quando Jonathan Franzen foi anunciado como estrela maior da Feira Literária de Paraty (FLIP) desse ano, resolvi tomar coragem e enfrentar as cerca de 600 páginas do romance mais recente do escritor, "Liberdade". Curioso como somos mesmo empurrados a tomar parte da indústria cultural, seja via a versão sado-maso dos pulp books Bianca e Júlia, o cafona "Cinqüenta Tons de Cinza", seja por meio de uma obra celebrada como o grande romance norte-americano do século, estampando a capa da revista Time, e incluído no popular clube do livro de Oprah Winfrey. 

O fato é que "Liberdade" virou pop, citado pelo presidente Obama como seu livro de cabeceira de 2011, incensado pela crítica literária mundial, e fenômeno cult de público. E, repito, são 608 páginas a serem percorridas. O que, indubitavelmente, nos faz questionar onde reside o mérito de Franzen e de seu catatau literário. 

Não iria tão longe como certas resenhas críticas foram, apontando "Liberdade" como um panorama vivo e profundo da América dos últimos 40 anos. Na minha perspectiva, o que me levou a terminar essa história foi a trama de amor, amizade, ciúme, infidelidade, inveja, tudo misturado, que envolve os 3 protagonistas - o casal Walter e Patty Berglund, e o amigo de faculdade e roqueiro tão cult quanto fracassado, Richard Katz.

Não há nada de novo no front, contudo, Franzen consegue nos envolver e nos fazer identificar com os dilemas amorosos de seus personagens, todos os 3 às voltas com as conseqüências de suas escolhas - entre segurança e paixão, entre ceder à tentação de seduzir e à lealdade a uma amizade antiga, entre remoer o ressentimento e superá-lo pelo perdão.

Com todo o desgaste que o termo liberdade vem sofrendo - vide a mais recente tragédia norte-americana - existe ainda uma forma de resgatar seu significado: buscando no microcosmo da ação humana, das interações interpessoais, as razões para o que acontece no universo da cultura ocidental contemporânea. O nonsense vem de nós mesmos, de nossa natureza.

 PS - Em tempo: "Cinqüenta Tons de Cinza" e sua trilogia não puseram os pés nessa casa... 

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Intimidade e impostura...


Ilona Olkonen é uma fotógrafa russa, natural de São Petersburgo, cujo trabalho está essencialmente calcado no olhar feminino sobre o feminino. São fotos de pequenos momentos de intimidade, close-ups de cumplicidade que, pelos tons trabalhados, somados à impostura das modelos registradas, remetem-nos a emoções contidas, às vezes um pouco frias, mas tocantes em sua delicadeza. À sua maneira, ela quebra o gelo...