sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Distanciamento e aproximação

Do fazendeiro ao pedreiro, todas as camadas sociais da vibrante economia alemã do início do século passado são objeto do projeto monumental "Homens do Século XX", de August Sander.
Visão geral do conjunto de registros fotográficos do Studio 3Z na trigésima bienal de São Paulo.

Integridade e sobriedade, marcas registradas dos personagens retratados pelo angolano Ambroise Ngaimoko (aka Studio 3Z)


Lutadores de boxe retratados por August Sander
2 garotos no estúdio de 3Z
O arquiteto Hans Luttgen e sua mulher, Dora, em 1926, no registro de Sander.
Uma perspectiva geral dos retratos do imenso portfólio de August Sander assim como dispostos na trigésima bienal de São Paulo
Pessoas comuns iam até o estúdio fotográfico de Ambroise Ngaimoko (aka Studio 3Z) para serem retratadas.

A trigésima bienal de São Paulo selecionou uma amostra interessante e inusitada de obras fotográficas. O fio condutor dessa escolha me parece ter sido, numa primeira etapa, a força do conjunto da obra de cada fotógrafo e, nessa mesma direção, o caráter repetitivo e obsessivo do artista em representar o mundo ao redor – seu mundo emocional, afetivo; seu mundo sócio-cultural.

Duas vastas coletâneas em específico tiveram enorme impacto sobre mim: os registros do angolano Studio 3Z, feitos na década de 70, e o portfólio de 619 prints do projeto “Homem do Século XX”, do alemão August Sander (pela primeira vez reunidos em sua totalidade, um resumo da sociedade alemã desde suas reminiscências camponesas do início do século passado, até a consolidação do capitalismo naquele país).

Em comum, o apuro técnico de uma época pré-digital, onde a revelação e a impressão em preto e branco dominavam. Além disso, ambos artistas dedicaram-se à fotografia documental – em seu estúdio no ex-Zaire, atual Congo, no caso de 3Z, ou no próprio ambiente do personagem-objeto, na obra de Sander. E apesar das diferenças culturais e de momento histórico, 3Z e Sander aproximam-se pelo conceito compartilhado sobre o trabalho de registro fotográfico. Não se trata para ambos de clicar e reproduzir meros instantâneos, mas sim reger e orquestrar uma composição contida e íntegra de seus retratados. Há neles, como dizer, uma honestidade artística, um respeito profundo por esses indivíduos que se dão a retratar.

A prolífica obra dos dois fotógrafos  tem seus sentidos revigorados em tempos de banalização imagética, pois 3Z e Sander fazem quantidade com qualidade, com apuro de peça única, individualizada. Há um mundo inteiro nos conjuntos de suas fotos, e mundos particulares em cada uma delas. Eis aí uma bela forma de renovar a crença no gênero humano.


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