quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre curvas e retas

as rampas, típicas do estilo de Niemeyer, do prédio da Bienal de São Paulo
os brises, ao fundo, recobrindo o prédio da Bienal de São Paulo (Niemeyer fazia muito uso deles).
interior das janelas da Bienal e seus brises
as rampas em torno de estrutura helicoidal do interior do prédio da Bienal de São Paulo
panorâmica do pé-direito do prédio da Bienal de São Paulo, com rampas e hélice ao fundo, com a produção e layout desta trigésima bienal.

Invariavelmente somos surpreendidos pelo acaso. Para o bem ou para o mal, é sempre uma sensação de estranhamento. Um elemento novo, de ocorrência súbita, com o qual não contávamos.

Não esperava ter que escrever sobre Oscar Niemeyer hoje. Não que de alguma forma sua morte tenha me pego de calças curtas, pois já sabíamos de suas idas e vindas ao hospital. E, afinal de contas, quando se está à beira de soprar 105 velinhas, a probabilidade de alguma coisa sair errada torna-se quase uma certeza. Infelizmente se tornou. Ou melhor, diria que felizmente Niemeyer usufruiu de uma vida plena de realizações, da criação de um estilo próprio e único, de uma carreira profícua e extensa de projetos e obras, tanto no Brasil como ao redor do mundo (hoje, nos jornais, nomes consagrados da arquitetura contemporânea, como a iraquiana Zaha Hadid, o português, Álvaro Siza, e o francês, Jean Nouvel, destacaram e, sobretudo, reconheceram a importância das estruturas de Niemeyer para a história da arquitetura).

Reconhecimento é o termo a ser frisado aqui. Sabemos que há uma série de controvérsias em relação ao trabalho de Niemeyer, seja por conta de Brasília, seja pela questão da não-funcionalidade de seus projetos, da aridez do concreto fartamente utilizado em suas estruturas, seja pelo caráter de celebridade e arquiteto cult que se formou a seu redor.  Pouco me importam os defeitos dos projetos de Niemeyer, ou se havia em seu tempo outros arquitetos tão ou mais competentes do que ele, mas que não usufruíram de uma fama tão larga quanto a dele. Não se pode, a meu ver, avaliar nenhum mérito de um artista sem ver o todo de sua obra, sem deixar que o tempo se encarregue de torná-la uma marca indelével de nossa cultura. Não existe “o melhor”, ou o mestre de obras-primas, unicamente. Um artista e sua obra são feitos também de esboços, projetos não terminados, rascunhos, defeitos de realização, intenções não concretizadas.

No cômputo final, não consigo pensar São Paulo sem o Copan, sem o prédio da Bienal e seu interior helicoidal, sem o Ibirapuera e sua marquise. Até mesmo o desértico Memorial da América Latina não me passa despercebido (isso sem mencionar todas as suas inúmeras obras, prédios, universidades, museus e afins Brasil e mundo afora).

Um conjunto de obra, uma costura que faz sentido, uma marca pessoal, estilo próprio, um engajamento. Morreu sim o maior arquiteto brasileiro.

PS -Todas as fotos postadas foram feitas por mim e meu tele-móvel, como dizem os portugueses.
o Copan e suas curvas

prédio do Mueseu Afro no Ibirapuera (as colunas e pilotis diagonais externos foram um traço de Niemeyer tomado da influência da obra de Le Corbusier).





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