domingo, 9 de dezembro de 2012

A arte não termina

Efeito de espelhamento sobre obra de Sheila Hicks: uma cortina com fios de tear coloridos.
Cordas de fios de tear coloridos encobrindo relógio antigo: uma das centenas de combinações feitas pela artista Sheila Hicks e o ofício de tecer.
Um dos inúmeros desenhos com colagem, de Nicolás Paris: livre associação infinita.
Jackson Pollock a bordo, da fotógrafa e artista plástica norte-americana Ilene Segalove.
A arte interativa de Simone Forti.
Mais uma obra de Simone Forti.

Guarda-sóis de Alexandre da Cunha.


Um dos comentários que mais me chamaram a atenção a respeito dessa trigésima edição da bienal de artes de São Paulo, que se encerra hoje, após 3 meses de exibição, no prédio da fundação de mesmo nome localizado no parque do Ibirapuera, foi o de que tudo o que estava lá exposto poderia ser acessado e visualizado pela internet, de que não havia nada grande, colossal, ou diferente do que estamos acostumados a ver. Pra que sair de casa se havia muita quantidade de obras de arte em tamanho pequeno – achei curioso a qualificação – como fotografias, esboços, desenhos, colagens e gravuras, às quais poderíamos ter contato através de um simples clique de mouse.

Muito curiosa essa observação. Não é o caso aqui de desqualificá-la; trata-se de uma impressão pessoal compartilhada por uma conhecida durante os 2 minutos que conversamos num ponto de ônibus do centro da cidade. Porém, a minha argumentação vai num sentido muito distinto, mesmo admitindo que, de fato, essa bienal não estava baseada na apresentação de uma coletânea de obras monumentais isoladas, grandes instalações especialmente feitas para o evento. O que, do meu ponto de vista, foi um diferencial positivo.

Foi uma bienal de pesquisa, de levantamento de artistas e obras – alguns muito conhecidos, outros, bem menos. Uma bienal que trouxe muito de cada um, e esse muito se multiplicava não apenas em auto-referências, mas também em referências a outras obras, outros artistas, como um caleidoscópio, um labirinto, ou a metáfora da biblioteca de Jorge Luís Borges, na qual o conhecimento armazenado é infinito. Um conhecimento que se transmuta e se desdobra a cada nova combinação de eventos, de fatos e interpretações.

Estavam lá para ser vistas e experimentadas diversas concepções do fazer artístico como ofício altamente rigoroso, que se revela pelo exercício exaustivo do uso de inúmeras técnicas e habilidades; a idéia do esboço, do estudo e do que resta inacabado; a obsessão de artistas por temas, por mundos, por palavras, livros e imagens; a obsessão pelo registro, pela repetição, pela classificação; a obsessão por organizar o mundo ao nosso redor – o micro e o macro – e tentar tirar desse caos o máximo possível de poesia, nem que seja preciso esgotar imagens, símbolos, conceitos – raspar da fruta até o bagaço.

Será que experimentar ao vivo uma organização rigorosa de todo esse jorro de referências aos quais estamos submetidos em tempos online não seria justamente a grande monumentalidade dessa bienal?

(todas as fotos são de minha autoria, apenas com parte das obras do térreo).


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