sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Adriana e o varejo...

2012 foi um ano bom para as artes visuais. A começar pelo final, a excelente bienal, que, apesar de extensa devido à quantidade de obras por artista, teve uma curadoria coesa e consistente. 

Mas tivemos Wolfgang Tillmans no MAM; Cruz-Diez, na Pinacoteca; as estátuas suicidas de Gormley no CCBB; Caravaggio, no Masp; Lygia Clark, no Itaú Cultural. Todas exposições dignas de nota. 

Também no MAM de São Paulo (Museu de Arte Moderna, localizado no Parque do Ibirapuera), houve também - nem sei se ainda está em exibição - uma retrospectiva da obra da carioca Adriana Varejão, uma das mais celebradas artistas plásticas da nova geração, já bastante valorizada no mercado internacional das artes. 

A mostra de Varejão me chamou a atenção por três razões, de certa forma, todas elas interligadas à forma como eu percebo a trajetória de seus trabalhos. 

Primeiro, a importância de haver um curador que conceba uma retrospectiva com base num fio condutor que destaque o melhor - leia-se, o mais significativo, a contribuição mais original - do trabalho de um artista. Nesse caso em especial, a temática do corpo em pedaços, da sexualidade/violência, inserida no contexto da cultura brasileira, são o mote da arte de Varejão. Há extenso uso das referências culturais de nossa colonização - o azulejo português, a pintura sacra, ex-votos, os mapas de época, o decorativismo, a perspectiva dos artistas estrangeiros sobre nossa cultura miscigenada - tudo isso aderido a uma sociologia do que resultou nossa identidade brasileira - o azulejo vira revestimento frio de hospital, com vísceras e órgãos expostos; vira sauna ou matadouro, numa referência a Moebius; os mapas apresentam feridas de sangue; as frutas tropicais lembram mucosas, tecidos humanos. 

A segunda coisa que se destaca, na minha visão, é como esse excesso de referências de que Varejão se vale para construir sua obra a torna, num certo sentido, menos original. Explico melhor: são referências que permeiam a obra de inúmeros artistas contemporâneos pois tratam de um universo compartilhado, à disposição de todo artista, referências acessíveis e reconhecidas por culturas afins. Indo mais fundo nesse mesmo argumento, é uma opção por arriscar menos, por trilhar o já conhecido, no sentido de tornar sua obra mais padronizada - e aí, talvez, mais aceita e valorizada em termos de mercado, monetariamente (deixo a questão para discussão).

Por fim, nota-se um desenvolvimento nas técnicas utilizadas pela artista carioca em suas obras. À medida que se tornam mais complexas - e, ao mesmo tempo, sua execução tem de ser feita mais rapidamente, pela demanda de exposições pelo mundo - seus trabalhos necessitam de uma equipe cada vez maior e especializada. Adriana Varejão assina obras que são executadas por um grupo de outros artistas, artesãos, serralheiros, marceneiros, carpinteiros, todos envolvidos em viabilizar de uma forma mais apurada e eficiente o conceito dado por ela. Não se trata, obviamente, de uma exclusividade dela; as artes visuais sempre dependeram, em menor ou maior grau, de um coletivo de co-autores para se concretizar. A diferença é que a profissionalização não apenas do artista-mãe mas também dos ofícios de apoio se tornou algo mais visível e palpável nos dias de hoje. Dificilmente um artista contemporâneo não compartilha suas ideias com outros artistas colaboradores para materializar da forma mais próxima a seu conceito sua obra. 

Tudo isso para concluir que o êxito de Adriana Varejão tem uma orquestração por detrás - curadores, referências, equipe. Há um propósito nisso - a obtenção de uma qualidade, de um selo, como o de uma repercussão mercadológica. Nada de errado. 
As fotos referem-se às obras reunidas na retrospectiva de Adriana Varejão no MAM-SP...

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