Mostrando postagens com marcador brises. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador brises. Mostrar todas as postagens

sábado, 11 de maio de 2013

niemeyer em campinas...

Frente do Edifício Itatiaia, projeto de Oscar Niemeyer, na rua Irmã Serafina, de frente à Praça Carlos Gomes, em Campinas. Da concepção à finalização do edifício, foram 6 anos, de 1954 a 1960.
Minha relação com Campinas, minha cidade natal, é absolutamente ambivalente. Relação de familiaridade e estranhamento, de acolhimento e de exclusão. Campinas é a cidade onde nasci e cresci, onde morei até os 18 anos. Depois veio a mudança para São Paulo, onde me estabeleci e moro até hoje (entremeios, houve temporadas na Alemanha e no Rio de Janeiro, mas São Paulo é minha base, onde criei meus vínculos de amizade, trabalho, meu lar). 

Nesse final de semana vim à Campinas por conta do "dia das mães". A maior parte de minha família continua por aqui. A cada retorno à cidade, sinto, ao mesmo tempo, um misto de nostalgia e indiferença. Tenho a conexão, o laço sentimental com a cidade, porém carrego um certo desapontamento com a desfiguração urbanística, com o desleixo do poder público frente ao patrimônio campineiro. 

Hoje de manhã, saí da casa de minha mãe com a tarefa de resgatar, de alguma forma, uma memória, uma mirada da cidade que me trouxesse sentimentos bons, afetos esquecidos. Logo de cara, deparei-me com a seguinte pixação, "o que não é visto não é lembrado". Nenhuma outra citação poderia caber como uma luva nesse caso. É doloroso andar pela cidade que já foi - e continua - sua, observando tantas construções sem estilo, sem preocupações estéticas, sem respeito ao espaço público. E aqui faço uma extensão ao pixo, o que não é lembrado, desaparece, corre o risco de se descolar da nossa experiência afetiva.

Andando pela Praça Carlos Gomes, no centro, um dos meus lugares preferidos na cidade, um espaço público fundamental na história de Campinas, vi e então me lembrei do edifício Itatiaia. Um entre os poucos projetos de Oscar Niemeyer executados no interior de São Paulo.

Ocupando um terreno escantilhado, na forma de um trapézio, foi construído na mesma época do Copan em São Paulo. Como o terreno não ajudava, as brises em ondulação aparecem na fachada dos fundos, enquanto que a frente do prédio apresenta brises em outro estilo, vazadas e geométricas, porém seguindo um alinhamento reto. 

Em 2010, o Itatiaia foi tombado pelo prefeitura. Na época, a síndica do prédio deu uma entrevista dizendo que os moradores tinham muito orgulho de morar num edifício projetado por Niemeyer. Tanto que eles próprios, antes da ação de tombamento, já haviam efetuado a restauração e reformas necessárias à sua manutenção. A preocupação, a partir daquele momento, era o contrário. Como se a iniciativa da prefeitura viesse para complicar a preservação do Itatiaia, uma vez que os rigores e disparates das leis de patrimônio histórico do Brasil trazem muito mais empecilhos do que incentivos à conservação.

Termino meu tour minimamente satisfeito. Uma satisfação passageira, no entanto. Pois não me sai da cabeça a força dos dizeres da pixação - teoricamente, um ato de vandalismo. Como permanecer na memória aquilo que corre o risco de não mais ser visto? 
A fachada traseira do Itatiaia, na estreita rua Coronel Rodovalho, apresenta, diferentemente da fachada da frente, a ondulação característica de obras semelhantes de Niemeyer como o Copan de São Paulo.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Sobre curvas e retas

as rampas, típicas do estilo de Niemeyer, do prédio da Bienal de São Paulo
os brises, ao fundo, recobrindo o prédio da Bienal de São Paulo (Niemeyer fazia muito uso deles).
interior das janelas da Bienal e seus brises
as rampas em torno de estrutura helicoidal do interior do prédio da Bienal de São Paulo
panorâmica do pé-direito do prédio da Bienal de São Paulo, com rampas e hélice ao fundo, com a produção e layout desta trigésima bienal.

Invariavelmente somos surpreendidos pelo acaso. Para o bem ou para o mal, é sempre uma sensação de estranhamento. Um elemento novo, de ocorrência súbita, com o qual não contávamos.

Não esperava ter que escrever sobre Oscar Niemeyer hoje. Não que de alguma forma sua morte tenha me pego de calças curtas, pois já sabíamos de suas idas e vindas ao hospital. E, afinal de contas, quando se está à beira de soprar 105 velinhas, a probabilidade de alguma coisa sair errada torna-se quase uma certeza. Infelizmente se tornou. Ou melhor, diria que felizmente Niemeyer usufruiu de uma vida plena de realizações, da criação de um estilo próprio e único, de uma carreira profícua e extensa de projetos e obras, tanto no Brasil como ao redor do mundo (hoje, nos jornais, nomes consagrados da arquitetura contemporânea, como a iraquiana Zaha Hadid, o português, Álvaro Siza, e o francês, Jean Nouvel, destacaram e, sobretudo, reconheceram a importância das estruturas de Niemeyer para a história da arquitetura).

Reconhecimento é o termo a ser frisado aqui. Sabemos que há uma série de controvérsias em relação ao trabalho de Niemeyer, seja por conta de Brasília, seja pela questão da não-funcionalidade de seus projetos, da aridez do concreto fartamente utilizado em suas estruturas, seja pelo caráter de celebridade e arquiteto cult que se formou a seu redor.  Pouco me importam os defeitos dos projetos de Niemeyer, ou se havia em seu tempo outros arquitetos tão ou mais competentes do que ele, mas que não usufruíram de uma fama tão larga quanto a dele. Não se pode, a meu ver, avaliar nenhum mérito de um artista sem ver o todo de sua obra, sem deixar que o tempo se encarregue de torná-la uma marca indelével de nossa cultura. Não existe “o melhor”, ou o mestre de obras-primas, unicamente. Um artista e sua obra são feitos também de esboços, projetos não terminados, rascunhos, defeitos de realização, intenções não concretizadas.

No cômputo final, não consigo pensar São Paulo sem o Copan, sem o prédio da Bienal e seu interior helicoidal, sem o Ibirapuera e sua marquise. Até mesmo o desértico Memorial da América Latina não me passa despercebido (isso sem mencionar todas as suas inúmeras obras, prédios, universidades, museus e afins Brasil e mundo afora).

Um conjunto de obra, uma costura que faz sentido, uma marca pessoal, estilo próprio, um engajamento. Morreu sim o maior arquiteto brasileiro.

PS -Todas as fotos postadas foram feitas por mim e meu tele-móvel, como dizem os portugueses.
o Copan e suas curvas

prédio do Mueseu Afro no Ibirapuera (as colunas e pilotis diagonais externos foram um traço de Niemeyer tomado da influência da obra de Le Corbusier).