quinta-feira, 30 de maio de 2013

bens confiscados...

Objetos de uso quotidiano confiscados de famílias judias pelos nazistas, no período entre 1941 e 1945, e posteriormente depositados no Museu Judaico Central de Praga. As fotos feitas por Christian Boltanski são do início dos anos 1990.
"Uma Cidade Sem Passado" é um filme alemão de 1990 sobre a pesquisa de uma jovem estudante a respeito do impacto do nazismo sobre sua pequena aldeia na Bavária. Sem entender, no começo, onde estava se metendo, a jovem começa a sofrer não apenas resistência dos moradores de Pfilzing, sua cidade natal, como também a hostilidade de uma gente temerosa da ameaça de passado redescoberto (daí o título do filme).

Sonja, a garota que insiste em escrever o ensaio para a escola, descobre, aos poucos, o tanto de participação surda que o silêncio obstinado dos habitantes de Pfilzing escondia sobre a perseguição nazista aos judeus na época da II Grande Guerra, e o quanto seu entorno, a cidade em que ela cresceu, buscava lhe roubar o direito de saber sobre o ocorrido. Uma das revelações mais decepcionantes para a jovem foi tomar conhecimento da quantidade de objetos de arte, utensílios domésticos, de porcelana, de prataria, roupas, que haviam sido confiscados das casas judias antes que seus moradores fugissem ou fossem deportados ou mandados para campos de concentração. Saber que aquela suposta jóia de família pertenceu, na origem, a outra família, era entrar em contato com um nível de impostura, de mentira, até então nunca acessado pela menina.
Saca-rolhas e livros inventariados em 1973, na cidade de Baden Baden, Alemanha, confiscados, entre outros objetos, de uma mulher judia.
"Sachlich", que pode ser traduzido, do alemão, como "aquilo que é objetivo", "objetivamente", é o título de uma das quatro partes da pesquisa do artista francês Christian Boltanski sobre lugar, memória e perda. Centrada nos objetos pertencentes aos judeus e confiscados pelo exército e polícia nazistas, eles foram posteriormente encontrados em museus, esgotos, casas, igrejas e cemitérios espalhados pela Europa Central. No início dos anos 90, Boltanski iniciou o processo de registro fotográfico desses objetos, feitos "naturezas-mortas", objets trouvés os quais, em sua aparente banalidade e opacidade, remetem-nos a um diálogo com um momento histórico recente, trágico e obscuro. Com uma fixação nessas espécies de relíquias de guerra, as imagens de Boltanski suscitam ambivalências - relações de tensão entre lembrança e esquecimento, entre singularidade e indiferença, efemeridade e permanência, entre força e abatimento.

Pode-se pensar a obra de Boltanski como um olhar melancólico sobre o passado e a memória. Entretanto, tenho mais afinidade com a própria definição do artista sobre seu trabalho: o absurdo e a tolice da existência dos objetos quotidianos na vida dos indivíduos - no caso, destroços e restos de um quotidiano; ou, mais além, um quotidiano destroçado. Como se, ao falarem, tais objetos denunciassem simplesmente quão mais fácil é estar morto do que vivo. 
Camiseta de Francis C., o retratado, encontradas em 1972.
Objetos encontrados nos esgotos de Zurique, Suíça, em junho de 1994.

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