sábado, 30 de março de 2013

esperando bjork...

"Cubo branco" é um termo criado pelo artista e crítico norte-americano Brian O'Doherty para designar espaços expositivos concebidos para que as obras neles instaladas sejam apreciadas supostamente sem nenhuma interferência exterior a elas. Um mundo à parte, uma caixa fora do tempo e do espaço. 

Curioso é pensar que o anexo do atual MAC-USP, antigo prédio do DETRAN, obra de Oscar Niemeyer, havia sido pensado originariamente como uma interação entre natureza e realização humana, luz natural e a rede de pilotis de concreto branco. No entanto, esse local, já ocupado literalmente por uma kafkiana repartição pública brasileira, acabou sendo transformado, de fato, num "cubo branco". Explico: um sistema de ar condicionado e paredes de drywall foram comprados para o espaço do prédio anexo, acabando, assim, com o efeito orgânico pensado por Niemeyer (kafkiana também é a maneira pouco clara em que esse equipamento foi adquirido, uma vez que a ideia original era manter a proposta do arquiteto). De qualquer forma, é impressionante a galeria de exposição montada ao final. Um verdadeiro cubo branco, imponente e arrojado, um dos melhores espaços de exibição vistos recentemente. 

A inauguração do cubo branco do prédio anexo ao MAC-USP, a meu ver, não poderia ter sido mais feliz. Carlito Carvalhosa interveio nesse espaço com a instalação site-specific denominada "Sala de Espera". São dezenas de grandes postes de madeira antigos, anteriormente destinados à rede elétrica da cidade. Dispostos em diagonal e horizontal, cruzando-se entre si, os postes formam uma contraposição à verticalidade e limpeza dos pilotis brancos de Niemeyer. Operou-se como um desvirginar do cubo todo branco, imaculado. Uma irreversibilidade contundente, tornando densa uma atmosfera anteriormente asséptica.

Visitei "Sala de Espera" só, sem nenhum outro indivíduo no recinto. O silêncio amplificou a sensação de profundidade espacial e de deslocamento temporal. Senti-me como num lugar fictício, em que a natureza inóspita, representada pela brutalidade da madeira, conjuga-se à artificialidade do branco monocromático e totalizador. Vieram-me imagens da Islândia, um país que desconheço, mas cuja iconografia me remete aos sentimentos revelados em mim pela obra de Carvalhosa. Naquela sala de espera - espaço transitório e mágico - fiquei esperando Bjork.

PS - fotos e vídeo feitos por mim...


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