quarta-feira, 20 de março de 2013

a representação da cidade...


O livro "As cidades Invisíveis", de Italo Calvino, é um ponto de partida para algumas reflexões minhas sobre a representação das cidades como objeto artístico. 

As cidades descritas por Marco Polo ao imperador Kublai Khan funcionam como recriação de um objeto por meio da representação discursiva, de uma recriação fabular. O soberano jamais conhecerá com seus próprios olhos nenhuma delas. Tudo será recriado em sua imaginação pela sedução do relato do viajante veneziano.

Se ele, Marco Polo, dispusesse de uma câmera fotográfica para registrar imagens das cidades para então dá-las a conhecer ao imperador Khan, como isso alteraria, para esse último, a construção imaginária desses sítios? 

Já discutimos aqui nesse blog que a fotografia, embora seja a representação mais aproximada do real, ela não é uma mera cópia da realidade capturada. Há, obviamente, traços da realidade captados numa impressão fotográfica via aparelho tecnológico, mas trata-se de uma perspectiva subjetiva, de um olhar artístico, olhar que se impõe não apenas na forma de captação, mas também pela manipulação do registro fotográfico via processo químico de revelação e ampliação.

Bom, falar em processo químico nos dia de hoje soa anacrônico. Vamos supor de uma vez por todas que Marco Polo estivesse equipado com uma câmera Canon 5D com objetivas de correção de perspectiva, mais softwares de tratamento de imagem como Photoshop CS4 e Capture One 6. Exatamente o aparato fotográfico e tecnológico utilizado pelo fotógrafo Nelson Kon, especializado em fotos de arquitetura e urbanismo.

As fotos de Kon, como as da série "Arte e Cidade" acima - São Paulo como cidade retratada - não deixam de ser um relato de alguém que, por conhecer tão bem uma cidade, constrói uma narrativa com forte potencial imaginário. Uma cidade nem mais nem menos verdadeira do que a real. Até porque qual é a verdadeira cidade? Qual é a São Paulo real? As imagens acima nos permitem fabular uma São Paulo imaginária, embora ligada ao real. Uma São Paulo vista pela composição artística, e por isso, subjetiva, de Kon. Neste caso, a quem cabe o papel de Marco Polo para o imperador-receptor.  

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