segunda-feira, 25 de março de 2013

o homem-lobo...


Depois de "O Homem Urso" (2005), de Werner Herzog, documentário sobre a experiência trágica do ativista Timothy Treadwell em sua tentativa insana de salvar os ursos grizzly do Alasca, misturando-se a eles em seu habitat natural, deparo-me com o 'homem-lobo": Werner Freund, um alemão de 79 anos, ex-militar, fundador em 1972 de um santuário de lobos na antiga Alemanha Ocidental.

Freund já cuidou de mais de 70 lobos desde então. Ele costuma pegá-los ainda filhotes em zoológicos ou instituições afins para, então, readaptá-los ao ambiente selvagem. O que inclui comportar-se como um lobo - mais especificamente um "macho alfa - para ganhar-lhes a confiança, sua aceitação e respeito. 

Pra mim, o mais interessante é o processo de aculturação aqui envolvido. Só que às avessas. Lobos de várias espécies, oriundas da Sibéria, do Canadá, Mongólia, após sua extinção em seus ambientes nativos, precisam ser reeducados - no caso, por um indivíduo civilizado, um homem - a se comportar como carnívoros predadores, cuja lógica de alcateia, isto é, de sociabilização dentro de um grupo hierárquico de alfas e betas, precisa ser conduzida artificialmente. O que foi apagado da natureza acaba sendo a ela devolvido com o mesmo teor primitivo, só que pelas mãos, bocas e comportamento do animal humano.  

O que mais atordoa em nossa condição humana é essa mistura de dimensão animal, de instintos violentos e paixões, com a dimensão de cultura, de educação e repressão. Como inserir esse lado animal dentro de uma sociabilidade não-destrutiva? Como desejar sem mutilar? Como se aculturar sem internalizar os excessos repressivos da culpa religiosa? Freund, assim como Treadwell, o personagem do filme de Herzog, optaram pela insanidade do mito do selvagem mas bonzinho. 

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