terça-feira, 5 de março de 2013

à procura de vivian maier, encontramos sua obra...

A cada dia aumenta minha crença no pensamento dialético. No diálogo e no encaminhamento pacífico que nasce do conflito e da oposição. Sempre fui ensinado de que vida e obra de um artista não deviam se misturar. Não se poderia julgar o valor da obra de um artista utilizando sua vida como metro. Então, com o tempo, os artistas passam a trazer suas próprias vidas para dentro de suas obras, incluem a si mesmos como objetos, como matéria do discurso ou de sua forma de expressão. Assim, acabo por me deparar com uma saturação dessa fusão: vivemos num mundo em que o artista angustia-se de tal maneira com o legado a ser deixado que ele se paralisa. Ou ele tenta se reinventar de modo banal, monocórdico, sem nunca terminar o que começou a fazer. Ele deixa de pensar no prazer - e na luta - do qual se trata o processo de fazer arte para pensar exclusivamente nos resultados, nos fins. E ele chega, por fim, a esse medo do fim, da morte. De morrer e não deixar uma obra significativa, um legado marcante.

Nesse contexto, vem à tona a história de Vivian Maier, e sua arte, sobretudo. Milhares de registros fotográficos, de negativos, de filmes a serem revelados, de rolos de super-8. Uma vida em segredo respirando arte para si própria, somente. Pela obsessão ou pelo prazer de fazer arte. Não importando reconhecimento, legado, resultado. Uma separação quase brutal, violenta, entre a mulher que ganha sua vida como babá e a artista que sai anônima pelas ruas da cidade, e se tranca em seu quarto para processar sua arte. O legado de Vivian Maier talvez chegue a ser comparado ao de um Cartier-Bresson, pela potência de seus registros fotográficos, pela enorme intimidade estabelecida entre sua câmera e seus retratados. Uma espiã disfarçada de babá. Uma qualquer. Uma autora de obra monumental. Aqui, a dialética entre a vida e a obra de um artista está posta: uma separação tão radical das duas que reforça a inseparabilidade de ambas. A vida de um artista é tão fundamental para sua obra quanto mais ele pensa sua precariedade existencial, quanto mais ele se debruça sobre o fazer artístico, e, assim, sobre a significação de sua impermanência. Algumas pessoas conheceram Vivian Maier como filha, amiga, empregada, cliente, mas nunca como artista. Agora, estamos diante da riqueza de sua obra.

Abaixo, trailer do documentário sobre essa obra fascinante, e a história por trás dessa obra.


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