quinta-feira, 7 de março de 2013

a repulsa ao sexo... e à liberdade...

A dupla é finlandesa; a música, eletrônica, de batida minimal; o diretor, também finlandês, cuja obra conversa diretamente com o escatológico, o ordinário, o deformado, elementos de new goth, arte gore, pornografia. 

Curioso é que não estamos falando de Brasil. Nem poderíamos estar pois vivemos tempos muito estranhos, quando, de um lado, atingimos altos níveis de vulgaridade e baixaria na indústria cultural, e, de outro, um regresso em termos de conquistas sociais e direitos humanos. 

Mais curioso é re-contextualizarmos uma arte marginal que surge no Brasil do final dos anos 70 justamente para lutar por meio de inúmeros suportes artísticos pelo direito à liberdade de expressão. Não se tratava de agradar a um público, muito pelo contrário. A proposta era remexer a pasmaceira pequeno-burguesa em que vivíamos - e que parece ainda nos assombrar - e ser transgressor no sentido mais puro e genuíno desse termo. Os coletivos "3Nós3", "Arte/Ação", "Viajo sem Passaporte", "Gexto", unidos à obra de artistas como Hudinilson Jr, Alex Vallauri, Paulo Bruscky, Daniel Santiago, Mário Ramiro, entre outros, transgrediram com conceito; ofenderam com propriedade, com uma proposta poética. Mas foram abafados e obscurecidos pelas gerações de artistas que se seguiram, ou, mais importante, pela dinâmica pseudo-conceitual e acomodada do mundo das artes no Brasil a partir de meados dos anos 80. 

O clipe de "Pretty Boy", dirigido por Miikka Lommi para o duo "Femme en Fourrure", torna-se mais potente, a meu ver, no contexto atual do Brasil. Ele se apropria de uma vulgaridade muito assemelhada às coreografias ligadas ao funk e ao axé para conduzi-la a um paroxismo - repetição, bundas flácidas e caídas, mulheres sem rosto, o concreto de uma garagem, uma voz feminina sussurando sacanagem sob uma batida sincopada, também meio funk. É sujo. E, portanto, pode causar repulsa.

Num país de neve quase eterna, frio, pouco habitado, a cultura pop, o design, o cinema, a música - as artes, em geral - tomaram o rumo do conceito, do pouco convencional, do gráfico, do subversivo, justamente para tornar esse branco muito menos branco. O novo clipe do "Femme en Fourrure" tem sentido criativo nesse contexto.

E retomo a provocação: e no Brasil de 7 de março de 2013? 

Nenhum comentário:

Postar um comentário