segunda-feira, 18 de março de 2013

as cidades invisíveis...

fotos de Kouichi Aokigi  

"Se meu livro As cidades invisíveis continua sendo para mim aquele em que penso haver dito mais coisas, será talvez porque tenha conseguido concentrar em um único símbolo todas as minhas reflexões, experiências e conjeturas", Italo Calvino, a respeito de sua obra, "As cidades invisíveis", escrito em 1972.

Walter Benjamin escreveu que a melhor maneira de se conhecer uma cidade é perder-se nela. Flanar. Walter Benjamin era barroco, gostava do tempo estendido, não só mero cronos. Por isso também era afeito a andar por aí sem rumo, sem mapa, conhecendo a topografia de uma cidade pelo contato direto, pelo estranhamento, pelo erro.

Italo Calvino, em seu "As cidades invisíveis", foi por um caminho distinto, até oposto, de certa forma. Foi conciso, preciso, fazendo do personagem histórico, Marco Polo, o viajante veneziano, sua Sherazade a contar para o imperador Kublai Khan as maravilhas das cidades que formavam seu imenso império, as quais, porém, ele não podia conhecer pessoalmente por conta de seus encargos de chefe supremo. Cego das belezas contidas em seus domínios, era por meio dos olhos de Marco Polo que Khan tinha acesso imaginário aos cantos e encantos de 55 cidades pelas quais o estrangeiro, seu diplomata, teria passado e conhecido. Todas eram referidas por nomes de mulheres: Cecília, Leônia, Pentesileia - e cada uma delas agrupadas em sub-títulos: as cidades e as trocas, as cidades e o céu, as cidades e os mortos, as cidades delgadas, as cidades e as memórias.

Quando penso numa cidade que não conheço, e ouço o relatos de alguém a respeito, faço logo essa associação com a obra de Calvino. Como se um espaço que não existisse fosse sendo ocupado por uma geografia específica, uma arquitetura, prédios, casas, ruas. Como jogar tinta sobre um "ser invisível". Ele deixa de passar despercebido e adquire formas, graças à intervenção de algum action painter imaginário. No caso das cidades nunca visitadas por Kublai Khan, as formas se configuram por meio das palavras, dos relatos de Marco Polo. Metáforas, referências, analogias, associações são maneiras múltiplas de dar a conhecer essas cidades a quem nunca poderá flanar por elas. Mas que, por outro lado, as conhecerá de maneira única, mágica, pela invenção do olhar daquele que a viu e a experimentou subjetivamente. É um olhar único e múltiplo, ao mesmo tempo. Cada cidade como representação de um universo inteiro. 

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