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quinta-feira, 28 de março de 2013

estilo animal...

Se tem uma coisa que me deixa sem paciência no mundo das artes visuais é a apropriação de uma ideia alheia, e já bastante trabalhada - inclusive historicamente -, por um determinado "artista" e este apresentá-la a seu público como sendo super original.

A originalidade de uma obra não reside no fato de a referência em que ela se baseia ter de ser nova, ou o seu formato, mas sim em o artista assumir a apropriação e acrescentar a ela a sua própria leitura, sua pesquisa. Mas não me venha posar de criativo na raiz da concepção. Ainda mais quando essa apropriação é praticamente uma cópia do que já foi feito por outros.

Fotos e vídeos com personagens humanos portando máscaras e cabeças de animais - coelhos, lobos, raposas, alces e afins - é uma alegoria bem batida, mas que, vira e mexe, nos deparamos por aí como sendo apresentada feito novidade. 

Sabemos que a iconografia "meio animal, meio homem" tem potência histórica, passando por muitas civilizações e culturas. A fusão do humano e do animal. Sátiros, faunos, centauros, sereias e tritões na mitologia grega. Os deuses egípcios, cada um com uma característica considerada sagrada proveniente da fauna do deserto. A iconografia de horror surgida no romantismo e movimentos com inspiração gótica na cultura ocidental, tipo lobisomens e vampiros. Em comum, a meu ver, é a força extraordinária e, assim, a representação de exceção, de status especial (sagrado ou maldito; heróico ou vilão), que tais seres adquirem pela mistura do "zoo" com o "antropo". 

Na modernidade, houve uma assimilação curiosa dessa iconografia, passando pelo surrealismo até um viés de crítica pastiche à vida pequeno-burguesa da cultura contemporânea. Sem paixões, sem instintos. Uma brincadeira com o desejo domado, mas também com a banalização da violência. 

A série "Zoo Portraits", do catalão Yago Partal, é um trabalho bem-humorado que se apropria desse conceito: trata-se de representações de animais que curtem se vestir com estilo e posar para fotos como modelos. Há uma dose de originalidade na medida em que há um conceito pop de representar as características de cada animal de acordo com seus respectivos looks. Engraçado. Mas nenhuma grande novidade. O que não tem problema, pois claramente Partal não quer estar na vanguarda da arte contemporânea, uma vez que tritura e condensa conceitos pops e acessíveis. 

segunda-feira, 25 de março de 2013

o homem-lobo...


Depois de "O Homem Urso" (2005), de Werner Herzog, documentário sobre a experiência trágica do ativista Timothy Treadwell em sua tentativa insana de salvar os ursos grizzly do Alasca, misturando-se a eles em seu habitat natural, deparo-me com o 'homem-lobo": Werner Freund, um alemão de 79 anos, ex-militar, fundador em 1972 de um santuário de lobos na antiga Alemanha Ocidental.

Freund já cuidou de mais de 70 lobos desde então. Ele costuma pegá-los ainda filhotes em zoológicos ou instituições afins para, então, readaptá-los ao ambiente selvagem. O que inclui comportar-se como um lobo - mais especificamente um "macho alfa - para ganhar-lhes a confiança, sua aceitação e respeito. 

Pra mim, o mais interessante é o processo de aculturação aqui envolvido. Só que às avessas. Lobos de várias espécies, oriundas da Sibéria, do Canadá, Mongólia, após sua extinção em seus ambientes nativos, precisam ser reeducados - no caso, por um indivíduo civilizado, um homem - a se comportar como carnívoros predadores, cuja lógica de alcateia, isto é, de sociabilização dentro de um grupo hierárquico de alfas e betas, precisa ser conduzida artificialmente. O que foi apagado da natureza acaba sendo a ela devolvido com o mesmo teor primitivo, só que pelas mãos, bocas e comportamento do animal humano.  

O que mais atordoa em nossa condição humana é essa mistura de dimensão animal, de instintos violentos e paixões, com a dimensão de cultura, de educação e repressão. Como inserir esse lado animal dentro de uma sociabilidade não-destrutiva? Como desejar sem mutilar? Como se aculturar sem internalizar os excessos repressivos da culpa religiosa? Freund, assim como Treadwell, o personagem do filme de Herzog, optaram pela insanidade do mito do selvagem mas bonzinho.