quarta-feira, 10 de abril de 2013

olhar, olhar, olhar... e continuar a olhar...

imagens da exposição "Fabiola", de Francis Aylis, em Londres e NYC.
A Pinacoteca do Estado de São Paulo recebe, desde a semana passada, a exposição "Fabiola", do artista belga, radicado no México, Francis Aylis. Trata-se de uma coleção de mais de 400 reproduções, das mais variadas origens e técnicas, do retrato original do pintor francês Jean-Jacques Henner, de 1885, na qual a santa católica, Fabiola, é representada de perfil, ornada com um véu vermelho. A pintura de Henner não tem paradeiro, não se sabe onde está. Mas Aylis, artista conhecido por sua arte eminentemente colaborativa e aberta, deparou-se, ao longo de mais de 15 anos, com reproduções da obra de Henner, as mais variadas, em mercados de pulgas, antiquários, brechós, feiras de antiguidades, lojinhas de bagulhos. Foram mais de 300 reproduções coletadas, todas elas expostas em conjunto a ocupar duas grandes paredes da Pinacoteca (antes, a exibição passou por cidades como Nova York e Londres). 

Se Aylis pode ou não ser considerado o artista da instalação - ou melhor, coleção - das "Fabiolas", há controvérsias. Pouco importa. Talvez ele tenha sido o curador dessa exibição, escondida de forma espalhada e dispersa por vários países onde o culto underground à Santa Fabiola é compartilhado. Talvez "Fabiola" seja o resultado, somado, do tempo de uma vida, as horas que cada artesão ou artista amador despendeu para retratar essa figura. Francis Aylis foi, no mínimo, o revelador, o meio pelo qual veio a público o conjunto de fabiolas, iguais e reproduzíveis em sua representação. Faltava quem olhasse, olhasse, olhasse... e continuasse a olhar, até perceber a recorrência e a repetição do ícone da padroeira protetora dos casamentos a perigo. 

(Hoje, no meu itinerário de trabalho, me propus a fazer um micro teste do olhar de Aylis, para algum tipo de representação iconográfica que se repetisse dentro de um mesmo contexto. Consegui, no máximo, formar um tríptico de imagens sacras, emolduradas por arames farpados ou pela própria grade de proteção que a separa da rua. Mais um dia de olhar, olhar, olhar... e continuar a olhar)...
imagens sacras emolduradas pela proteção da cidade - o arame farpado ou a grade - encontradas ao longo do meu itinerário de hoje: cemitério do araçá e colégio santa marcelina. 

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