sábado, 20 de abril de 2013

o artista é um editor de imagens...

Obras de técnicas e séries diversas da prolífica trajetória artística do paraense Emmanuel Nassar.
Jerry Salz é historiador da arte, e tem uma coluna no Village Voice, de Nova York. Roberta Smith é jornalista especializada em artes visuais e escreve no New York Times. Também tem sua própria coluna. Ambos são considerados críticos de altíssima reputação no mundo da arte contemporânea. Ambos,  coincidentemente, formam um casal. 

Eles declaram evitar falar de trabalho em casa. Da mesma forma, procuram não ver as mesmas exposições ou visitar as mesmas galerias ao mesmo tempo. Além disso, cada um possui seu modo de olhar a arte e, portanto, seu próprio estilo de escrita. Roberta é mais formalista, a ela interessa a técnica, o processo, o meio de expressão do artista; Jerry, por sua vez, gosta da vertente de narrativa contida em toda obra de arte, atendo-se mais ao que a obra tem a contar do que em seu suporte. 

São duas formas distintas, no entanto, complementares, de abordar a arte. Forma e conteúdo não se dissociam, porém há casos em que aspectos formais destacam-se mais do que o conteúdo e vice-versa. Tudo depende da maneira como o artista alia suas intenções, seus conceitos, dentro da linguagem escolhida por ele para se comunicar.

No contexto da arte contemporânea, artistas sofrem com a  questão da originalidade, com o processo de encontrar um estilo próprio, único. Uma vez imersos num mundo em que todos os limites e extensões da arte já foram explorados, cabe ao artista um papel de editar, à sua maneira, o volume de imagens e influências a seu redor. Como na montagem de um filme. 

Tomo o exemplo da obra do paraense Emmanuel Nassar como representativa dessa concepção de fazer artístico contemporâneo. Influenciado pela riqueza da miscigenação portuguesa e índia de Belém, Nassar é um editor das cores intensas e quentes encontradas pela cidade, da iconografia popular, incluindo a da indústria cultural, das formas e modos de vida locais. O resultado dessa edição é original na medida em que se materializa numa linguagem aparentemente oposta, em formatos que flertam com o construtivismo, a abstração, e geometrismo característicos da arte moderna brasileira.  

Trabalhando inicialmente a acrílica sobre tela, depois o relevo sobre madeira, e depois técnicas de assemblage, a obra de Nassar sempre bebeu na fonte do popular mais popular possível, em releituras de desenhos e pinturas encontradas em bares e banheiros públicos de Belém, das cores vibrantes dos muros e das casas, dos anúncios em placas de metal tão recorrentes na periferia da cidade. 

Jerry Salz e Roberta Smith, muito provavelmente, escreveriam resenhas muito distintas sobre a obra de Emmanuel Nassar. E, também muito provavelmente, seriam críticas complementares: enquanto Smith ressaltaria a riqueza das composições formais, o contraste das cores e formas que tornam Nassar único no universo construtuvista brasileiro, Salz enfocaria o contexto em que essa obra foi editada, seu diálogo particular e ao mesmo tempo universal entre a cultura popular paraense, a indústria cultural e a sociedade de consumo na qual estamos todos inseridos. 

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