quarta-feira, 3 de abril de 2013

beleza americana...






William Eggleston nasceu no Tennessee, e foi criado no Mississippi. No sul profundo norte-americano. Sempre afirmou que, quando criança, sentia não se enquadrar naquele universo. Mas que, mesmo assim, sabia que pertencia a ele, invariavelmente. Muito provavelmente, dessa relação paradoxal de olhar estrangeiro e, ao mesmo tempo, familiar, é que vêm a crítica e a generosidade
 de sua obra fotográfica quando representa o ordinário e o banal da realidade sulista dos Estados Unidos, ao lado da qual convivem a violência e o vazio existencial de algum sonho perdido. 

Se continuamos a percorrer os meandros dessa lógica, pode-se explicar a opção de Eggleston pela impressão por transferência de tinta (dye-transfer print) - ou tampografia, em português - uma técnica de ponta no início da década de 1970, utilizada, sobretudo, para cartazes, placas e objetos de propaganda com uso diverso de cores e contrastes (tipo um grande placar com a logo da Pepsi ou da Coca-Cola). Eggleston transferiu o uso saturado de cores das peças publicitárias para o idioma e a sintaxe de sua fotografia. Pioneiro do uso abusado da cor no suporte fotográfico, inicialmente visto com maus olhos pelos críticos de arte da época, Eggleston também foi um dos primeiros a expor fotos coloridas no MoMA de Nova York, a conferir status artístico à cor na fotografia. 

Olho para as fotos de Eggleston e vejo uma continuidade, um diálogo com a pintura hiperrealista norte-americana. Não apenas no uso das cores, como também nos temas e no enquadramento, o foco no vernacular, em outdoors perdidos na estrada, postos de gasolina, no barato e pequeno da vida, em interiores domésticos quentes e inóspitos, ou em áridas panorâmicas externas. Uma churrasqueira pode ser assustadora. Um quarto de motel e um triciclo infantil, solitários. E as figuras humanas, meio esvaziadas, meio displicentes. Embora sempre cheias de calor.

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