sábado, 6 de abril de 2013

entre poesia e mercadoria...

Título da curadoria feita por Monica Espinel, uma das escolhidas pelo laboratório curatorial da sp-arte 2013
Impressão fotográfica de Francesca Woodman para "a pele que habito": a consciência e questionamento do nosso próprio corpo, como objeto, como meio, como distorção.
"Livro de areia", de Marilá Dardot: a leitura do fragmento de Heráclito só é legível através de seu reflexo no espelho. Fragmento que aborda a transitoriedade da existência, o eterno retorno, ser e vir a ser.
Objeto da série "Vis-à-vis", de Thiago Honório: espelho, chifre de boi e lentes de aumento, intermediando a relação de ver, se ver e ser visto.
Print fotográfico da série "Portadores", criada por Almudena Lober e Isabel Martinez, na qual anônimos emprestaram seus corpos para tatuagens cujos desenhos conversam com as respectivas partes em que foram inscritos, bem como com ações físicas feitas pelos portadores.
Pela segunda vez consecutiva, a feira internacional de arte de são paulo (sp-arte), edição 2013, promove uma ação institucional-educativa dentro da programação da feira, denominada "laboratório curatorial". 


Trata-se de selecionar projetos de novos curadores que trabalhem, além de conceitos próprios e perspectivas críticas, o diálogo com as obras e artistas representados pelas galerias que participam da feira. Em outros termos, para que a sp-arte não permaneça apenas no terreno dos negócios e dos cifrões - isto é, no campo da mercantilização da arte, puramente - a proposta do laboratório curatorial é abrir e alargar brechas entre a obra de arte como commodity, mercadoria com preço, e ela, obra de arte, como fruto de um ato criativo, de um contexto mais amplo, o campo da poética, da forma, da manifestação artística como irreverência, questionamento e discussão do mundo ao redor. 

Aparentemente pode-se pensar numa certa hipocrisia se consideramos tal iniciativa de modo ingênuo, como que autônoma e destacada do caráter feira comercial da sp-arte. Porém, não é com esse viés que o laboratório curatorial foi concebido. Não estamos num mundo de inocentes. O próprio texto de apresentação, na capa do folder, assume essa posição, a de tensionar um diálogo entre a disseminação crítica da obra de arte e o cenário de compra e venda em que ela também está inserida. 

A teoria do conhecimento apercebeu-se, com o desenrolar histórico das ciências exatas e humanas, de que ao lado de um conhecimento mainstream, isto é, hegemônico, convivem outras formas, teorias de compreensão e entendimento dos mesmos objetos de estudo - na física, na química, nas ciências sociais. É inevitável, no entanto, que alguns aspectos das teorias hegemônicas acabem por envelhecer, deixam de ser válidos na medida que não conseguem mais explicar os fatos a que se propõem dar uma organização causal ou contextualização lógica. E é aí, nesse ponto, em que as teorias marginais, off-road do status de legitimação científica dada por uma elite intelectual e acadêmia, entram em cena. Elas são fagocitadas pelo sistema padrão, conservador, a fim de arejá-lo, refrescar os metodologias de conhecimento e as teorias científicas. 

Processo análogo ocorre no mundo das artes em geral, pois a indústria cultural é voraz por novidades, por carne fresca e temperos exóticos, aparentemente críticos e inóspitos a ela, mas sem os quais não haveria renovação da mesmice.  A destruição criativa imposta pelo capitalismo mata, trucida, masca, come e engole tudo aquilo que puder lhe trazer rejuvenescimento e frescor.

De volta ao laboratório curatorial da sp-arte 2013, seus resultados trouxeram à discussão quatro pesquisas, empreendidas por quatro curadores, as quais não apenas indagam quais são as fronteiras do suporte artístico nos dias de hoje, se eles são passíveis de apropriação mercantilista (como vou vender uma performance?), como também dão a ver aos consumidores e apreciadores como a produção artística, no caso, a contemporânea, nasce num contexto poético, de manisfestações críticas - formais ou engajadas -, de um solo fértil que necessita de um mínimo de liberdade e espontaneidade para que, então, possa vir a ser abatida como presa a ser dependurada na vitrine do açougue.

Dramático esse final, sem dúvida. Porém, a realidade que se impõem exige esse equilíbrio tênue entre curto e longo prazo, entre o já assimilado e o experimentalismo, entre o duradouro e o efêmero, entre a poesia e a mercadoria. Difícil é mantermos esse pêndulo em movimento, esse tecido sempre tensionado, esticado.

PS-todas as fotos captadas pelo meu tele-móvel...

A curadoria de Tomás de Toledo, denominada "o enunciado em questão",  fala da palavra, da literatura e linguagem, como objetos, símbolos e formas apropriadas visualmente pela arte contemporânea (acima, frase de Proust, em print dourado, trazendo um contraste com a extensa obra do clássico escritor francês; por Mateo López).
"High Tension", impressão fotográfica de Anna Maria Maiolino, para a curadoria de Tomás Toledo.
Sandra Gamarra questiona o saber colonizador como algo artificialmente construído, também em "o enunciado em questão".

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