terça-feira, 9 de abril de 2013

arquitetura na cidade de são paulo - o centro da cultura judaica...


Por que ainda continuamos a morar em uma cidade como São Paulo? Quais experiências vibrantes uma cidade inóspita como essa é capaz de nos proporcionar? Morando em Pinheiros há muito tempo, praticamente desde que me instalei na cidade, por conta de uma atmosfera de aconchego e, ao mesmo tempo, de burburinho urbano, me frustra ver, bem na esquina do quarteirão oposto ao meu, que mais um espigão será erguido. Às custas da destruição, sempre crescente por aqui, do que o jargão acadêmico convencionou chamar de arquitetura vernacular. Isto é, toda e qualquer casa ou prédio que tenha sido espontaneamente construído por meio do emprego de materiais e recursos do próprio ambiente em que a edificação tenha sido colocada de pé. As taipas de pau-a-pique dos bandeirantes e tropeiros; as casas geminadas ou de frente, meio e fundos, tradição dos imigrantes portugueses; os solares baianos e pernambucanos; os armazéns do Brás e da zona cerealista; as fachadas italianas do Bixiga; os predinhos de 2 e 3 andares "boteco em baixo-residência em cima". Todos exemplos de arquitetura vernacular.


Em seu lugar, vemos edifícios residenciais medonhos, sem estilo, anódinos; torres de escritório inteiramente padronizadas na linha vidros espelhados, feito cofres blindados; ou, se o bairro é chique, os famosos neoclássicos. Não sei como denominar esse formato de ocupação urbana. Sei que é fruto da especulação imobiliária, do mau gosto do capitalismo desenfreado, e dos conceitos mercantilistas de enfiar gente em cubículos, engaiolada.

A complementar a arquitetura vernacular, numa cidade, temos a arquitetura projetada. Prédios ou casas com finalidades às mais variadas - desde uma residência até um museu, um centro cultural - projetados explicitamente com estilo e proposta estética diferenciados, assinados por escritórios de arquitetura renomados ou por uma associação deles, ou ainda por outra configuração que tenha, como resultado, uma assinatura autoral.

Caso do Centro da Cultura Judaica, inaugurado em 2003, no viaduto Sumaré, com projeto capitaneado por Roberto Loeb. Por se tratar de um terreno assimétrico, estreito e em nível, num lugar com muita luz e muito vento, a solução encontrada para resolver essas questões de funcionalidade casaram-se com as opções estéticas tomadas: de um lado, a representação do pergaminho da torá, texto central do judaísmo; de outro lado, características da arquitetura moderna brasileira e da escola paulista. Duas torres de concreto aparente, dispostas em diagonal, unidas por um grande pergolado de concreto de forma curva, recoberto por placas de vidro fumê em brise-soleil. A ondulação recoberta pelas brises produz a impressão de fluidez do papel - referência à torá -, assim como as brises protegem o ambiente interno do excesso de vento e iluminação natural. Um prédio que sempre me chama o olhar quando passo por perto (daí as fotos).

Aqui, fica meu desejo, mais que protesto, de que a inusitada interação entre arquitetura vernacular, projetada, e gente, toda essa gente que dá vida a São Paulo, mesmo que sofra suas modificações inevitáveis, permaneça em sua força e originalidade.

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