Vivemos já há algum tempo a febre do aplicativo Instagram
(creio que não preciso explicar aqui do que se trata; a grande maioria das
pessoas com quem convivo ou participam diretamente dessa rede social móvel ou
já ouviram falar dela).
Nos últimos anos as artes visuais têm adentrado fortemente o
mundo da tecnologia. A utilização de novas técnicas de captação e manipulação
de sons e imagens, de novas plataformas de visualização e percepção, abrem
novos caminhos pra criação artística. Mas não necessariamente excluem formas
pretéritas, tradicionais, nem tampouco significam um empobrecimento das formas
artísticas. A fotografia não morreu por conta da passagem do analógico para o
digital. E tampouco o Instagram pode ser pensado como uma forma de vulgarização
da arte fotográfica. Trata-se de mais uma rede social bem-sucedida em nos
seduzir, nos viciar em brincarmos de ser fotógrafos, artistas. Como um diário
pessoal, acrescentamos cada passo dado em nosso dia-a-dia – a comida que comemos;
os pés descalços na areia; os gatos e cães de estimação; o vários skylines e sóis se pondo; as nuvens; um
elemento decorativo antigo num portão enferrujado; uma arte de rua; um
auto-retrato refletido no espelho do banheiro.
Sim, vivemos num mudo cada vez mais auto-referente, onde o
narcisismo e o egocentrismo grassam à velocidade da luz. O mais complicado, na
minha opinião, é essa intensidade e aceleração, porque de auto-referência e
obsessão a história da arte está repleta. O que pode cruzar a fronteira e
indicar um excesso de banalização é a perda de parâmetros, dada a avalanche de
informações repetidas e mesmices. Mas arte é isso aí também: engodo, artifício,
joio misturado com trigo, falsos brilhantes e anões de jardim.
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