Quarto e último dia de desmontagem da mostra dos impressionistas no CCBB-SP: a dificuldade de movimentar as enormes caixas com os quadros devido as limitações de espaço do prédio |
O saguão do prédio do CCBB-SP lotado de caixas com obras dos impressionistas: o chão todo forrado para proteção do piso de mosaico |
“Planos de Fuga” é o título da exposição que encerra o
calendário de artes visuais de 2012 do Centro Cultural Banco do Brasil de São
Paulo (CCBB-SP). E fecha com chave de ouro um ano repleto de grandes
realizações no campo das artes visuais promovidas por essa instituição.
Vimos passar por lá a impactante retrospectiva da obra do
artista britânico Anthony Gormley, agora em exibição no CCBB de Brasília, bem
como o estrondoso sucesso de público – e as longas filas de espera –, causados
pela mostra dos impressionistas franceses, com obras-primas do período, selecionadas
pelo Museu D’Orsay de Paris (atualmente, em cartaz no CCBB do Rio de Janeiro).
Um dos elementos a tornar “Planos de Fuga” sui generis é justamente o contexto
cronológico em que essa exposição literalmente se instala no prédio do CCBB de
São Paulo, no centro histórico e financeiro da cidade. Depois dos esforços monumentais
para pendurar as esculturas de corpos humanos de Gormley do alto da clarabóia
do edifício (foi preciso montar uma estrutura de engenharia sofisticada em
volta do prédio, para que as 10 toneladas de ferro não causassem a demolição do
edifício); depois da própria mudança do setor administrativo do centro cultural
para outro endereço, a fim de aumentar em mais um andar o espaço de exibição da
instituição; e após a dificultosa disposição das enormes telas impressionistas
nas pequenas salas dessa ex-agência do Banco do Brasil, a primeira da cidade de
São Paulo, o que resultou numa operação trabalhosa dos funcionários para
administrar o fluxo de pessoas entrando e saindo do prédio.
O outro elemento é conseqüência dessa cronologia: afinal, o
prédio do CCBB-SP, projetado pelo arquiteto Hippólito Gustavo Pujol Júnior,
adequa-se à finalidade de servir de espaço privilegiado para exposições da
envergadura das que ele mesmo tem produzido? Quais são as possibilidade e,
sobretudo, os limites dessa construção? De um lado, as instalações da antiga
caixa-forte do banco servem de cenário inusitado para exibições de arte; de
outro lado, as salas e corredores estreitos dificultam a visita de mostras de
forte apelo popular. Isso sem falar dos riscos para o patrimônio, quando algum
elemento decorativo do prédio é danificado no processo de instalação de uma
obra (caso dos vitrais art-nouveau da
clarabóia).
Por que então não explorar essa questão do espaço físico
CCBB-SP, com todas as suas idiossincrasias, do ponto de vista artístico? Sob a ótica
de uma exposição que discuta especificamente aquele espaço, as potencialidades
e as complicações advindas de sua ocupação não apenas como centro cultural, mas
como obra em si mesma.
Desse tipo de questionamento, surgiram nos anos 60 e 70
as chamadas exposições site-specific,
isto é, compostas de obras que têm como pressuposto, conceito e linguagem o próprio
espaço nas quais vão se situar. Nesse sentido, a arte site-specific só tem sentido dentro de um determinado contexto
espacial – uma casa, um edifício, um conjunto de ruas, por exemplo. Ela é pensada e executada para esse
determinado contexto, para que o espectador deixe de mirá-lo apenas por suas
características funcionais mas sim por todos os possíveis sentidos que podem
ser retirados desse dado espaço.
Como um analisando no divã, a primeira e antiga agência bancária do Banco do Brasil em São Paulo é questionada e instada a despregar sentidos de toda a sua história, de todo seu corpo e suas atividades. "Planos de Fuga" foi concebida para tanto, para que o CCBB se reinvente para seus frequentadores como plataforma artística, em seus limites e possibilidades.
To be continued...
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