A clarabóia do vão central do CCBB-SP com a cortina de plástico de Cristiano Rennó. |
As amarrações da cortina e o piso de mosaico. |
A entrada do CCBB-SP com as franjas da cortina. |
A primeira impressão ao adentrar a mostra “Planos de Fuga”
no CCBB-SP, em cartaz até o início do mês de janeiro de 2013, foi a de um centro
cultural fantasma, como que desativado. Esse estranhamento fazia sentido pois o
próprio prédio do CCBB - suas instalações e distribuição funcional - eram o
próprio objeto das intervenções artísticas ali presentes.
Na entrada, a cortina de Cristiano Rennó – centenas de
fitas de plástico em amarelo e vermelho vivos, amarradas no guarda-corpo do terceiro
andar e caindo até a metade do pé-direito do piso inferior. Apenas nós e
amarras sustentam essa estrutura, que ora destaca os elementos decorativos do
prédio, ora impedem a visão do visitante do vão central, como se o escondesse.
No porão, onde fica o antigo cofre, a instalação que mais me
impressionou pelo deslocamento e absoluta mudança de signos operados nesse
espaço. A espanhola Sara Ramo arranca fora todo o acabamento do recinto,
transformando o piso inferior num labiríntico canteiro de obras, com
tijolos, madeira, cimento, e pilhas de lixo aparentes (lixo, aliás, proveniente
da montagem da exposição), com direito até a um vestiário improvisado de pedreiros
fictícios, onde roupas e pertences estão arranjados e pendurados. O cofre é um
elemento à parte em termos de intensidade – sua passagem encontra-se bloqueada,
e ao termos acesso a ele por um desvio, deparamo-nos com um ambiente iluminado
com uma forte luz amarela, refletindo pilhas de forração com spray dourado,
como um ouro dos tolos, o tesouro dos iludidos.
No último andar, Cildo Meireles executa pela primeira vez no
Brasil a instalação “Ocasião”, concebida na década de 70, mas só realizada em
2004, em Frankfurt. Duas salas separadas por um longo e sinuoso caminho. E um
conjunto de espelhos. Na primeira, o visitante pode observar seu reflexo em
cada uma das 4 paredes, visualizando, no centro, um pote cheio de cédulas de
reais. Na outra sala, depois de passar ao largo da clarabóia de luz natural, o
visitante pode ver os indivíduos que estão na primeira sala sem ser visto, como
no mecanismo de identificação de suspeitos efetuado pela policia. Ato contínuo,
o observador procura imaginar como seu comportamento foi captado e visto,
minutos antes, por quem quer que estivesse por trás dos espelhos naquele
primeiro momento. Espaço e tempo conjuntamente deslocados.
Gabriel Sierra e Marcius Galan brincam com elementos
cenográficos no primeiro andar. O primeiro revela o ambiente através de paredes falsas com
aberturas recortadas no meio; o segundo joga com a camuflagem, reproduzindo cenicamente os
elevadores e displays da recepção (houve relatos de monitores de que visitantes
chegaram a se confundir com essas fachadas fake).
Os únicos artistas cujas obras não foram executados ou
adaptadas intencionalmente para o espaço do prédio do CCBB-SP são os
norte-americanos Gordon Matta-Clark e Robert Kinmont, e a suíça Claudia Andujar.
Eles representam um núcleo mais histórico, dada a consistência de seus
currículos e por trazer outras perspectivas da interação do indivíduo e seu meio-ambiente,
seja cidade, rua, paisagem, casa (Matta-Clark merecerá um post à parte, pois
seu trabalho site-specific ainda hoje
é muito revolucionário).
A arte, em muitas situações, só ganha força de sentidos no
contexto em que ela é realizada. A grande maioria do que está dentro do
CCBB-SP, do que está em obras em “Planos de Fuga”, não pode ser imaginado fora dali.
Fugimos do museu, do centro cultural que costumeiramente desempenha o papel de
abrigo de exposições, para um tempo e espaço fora do cronológico e do
funcional, respectivamente. Entramos numa obra de arte.
PS - ifotos minhas...
PS - ifotos minhas...
Primeira sala de espelhos da instalação "Ocasião", de Cildo Meireles, com o pote de louça esmaltada no centro. Estamos brincando sem saber que somos observados |
Cenografia de paredes vazadas do colombiano Gabriel Sierra. |
O amontoado de forração dourada na instalação de Sara Ramo dentro do cofre da antiga agência bancária do Banco do Brasil / CCBB-SP |
As roupas de pedreiro no canteiro de obras no qual o subsolo do CCBB foi transformado. |
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