A trigésima bienal de São Paulo selecionou uma amostra
interessante e inusitada de obras fotográficas. O fio condutor dessa escolha me
parece ter sido, numa primeira etapa, a força do conjunto da obra de cada
fotógrafo e, nessa mesma direção, o caráter repetitivo e obsessivo do artista
em representar o mundo ao redor – seu mundo emocional, afetivo; seu mundo
sócio-cultural.
Duas vastas coletâneas em específico tiveram enorme impacto
sobre mim: os registros do angolano Studio 3Z, feitos na década de 70, e o portfólio de 619 prints do projeto “Homem do Século XX”,
do alemão August Sander (pela primeira vez reunidos em sua totalidade, um resumo da sociedade alemã desde suas reminiscências camponesas do início do século passado, até a consolidação do capitalismo naquele país).
Em comum, o apuro técnico de uma época pré-digital, onde a revelação
e a impressão em preto e branco dominavam. Além disso, ambos artistas
dedicaram-se à fotografia documental – em seu estúdio no ex-Zaire, atual Congo,
no caso de 3Z, ou no próprio ambiente do personagem-objeto, na obra de Sander.
E apesar das diferenças culturais e de momento histórico, 3Z e Sander aproximam-se
pelo conceito compartilhado sobre o trabalho de registro fotográfico. Não se trata
para ambos de clicar e reproduzir meros instantâneos, mas sim reger e
orquestrar uma composição contida e íntegra de seus retratados. Há neles, como
dizer, uma honestidade artística, um respeito profundo por esses indivíduos que
se dão a retratar.
A prolífica obra dos dois fotógrafos tem seus sentidos revigorados em tempos
de banalização imagética, pois 3Z e Sander fazem quantidade com qualidade, com apuro
de peça única, individualizada. Há um mundo inteiro nos conjuntos de suas
fotos, e mundos particulares em cada uma delas. Eis aí uma bela forma de renovar
a crença no gênero humano.
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