quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

realismo renascentista...

Muito raro à época haver representações tão cruas e realistas de Jesus Cristo morto. Estamos falando de um dos períodos iniciais da arte renascentista italiana, por volta de 1490 (quattocento), quando Andrea Mantegna realizou a tempera sobre tela intitulada "Lamentações sobre Cristo Morto", ou simplesmente, "Cristo Morto", hoje no acervo da Pinacoteca di Brera, em Milão.

A arte sacra renascentista muito frequentemente representou a morte de Cristo de forma idealizada, um Cristo etéreo, representado ora nas diferentes cenas relativas à crucificação, ora em sua ressurreição. Um Cristo humanizado, um cadáver mesmo, um corpo com suas feridas letais nos pés e nas mãos, deitado sobre um mármore frio, em tons pálidos, era uma nota dissonante. Uma representação diferenciada da maioria.

Se acrescentamos a essa representação, a perspectiva da cena como retratada na tela de Mantegna - os pés em primeiro plano, depois as mãos, e então o rosto sem vida, a cabeça pendida para a direita, e, no canto esquerdo, como que fora de enquadramento, a Virgem Maria e São João - o resultado é a intensificação da cena dramática representada. Um Cristo descolorido, frio, sem vida. Não o filho de um Deus, mas um homem comum entre muitos outros que, em sua época, morriam crucificados. 

Além dos recursos do chiaroscuro, chama a atenção a similaridade da técnica pictórica de Mantegna com escultura grega. Daí todo o detalhamento anatômico do corpo humano e a própria paleta "descolorida" de cores.

"Cristo Morto" demonstra como a originalidade e o estilo próprio de um artista não resultam obrigatoriamente de um momento histórico ou de poéticas contemporâneas predominantes. 

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