Retrato de Sofonisba Anguissol (1624) por Anthony Van Dyck quando de sua visita à pintora na Sicília.
Atualizando a história de Sofonisba Anguissola para os dias de hoje, observamos que apenas no início do século XX as mulheres-artistas (ou artistas-mulheres) começam a ter expressividade maior no mundo das artes. Até então, seu acesso ao círculo de movimentos artísticos, de escolas, de exposições e, sobretudo, ao reconhecimento como profissional era extremamente restrito. São inúmeros os casos de obras que foram executadas por artistas-mulheres e assinadas por homens, seja por apropriação indevida, seja para que elas tivessem possibilidade de venda e aquisição por parte de um museu ou colecionador num mundo onde a legitimidade da obra executada por uma mulher não existia.
Em maio agora, o CCBB-RJ abre uma exposição com obras de 65 artistas mulheres, datadas de 1907 até os dias de hoje. Trata-se de uma exibição organizada pelo Centre Georges Pompidou, com obras de seu acervo, em cartaz em Paris em 2010.
Quando fazemos a contabilidade nas bienais e nos acervos dos museus de arte moderna e contemporânea, deparamo-nos com números impressionantes: apenas 4% desses acervos é composto por obras de autoria de artistas mulheres. E, nas duas últimas bienais de São Paulo, menos de 1/4 dos artistas exibidos eram mulheres.
Sem tocar no tema de uma arte "feminina" ou mesmo "feminista", ressalto um aspecto antropológico ainda presente nas sociedades ocidentais, mesmo pós-dominação capitalista, onde a igualdade de gêneros se dá pelo denominador comum do dinheiro. O mundo do trabalho ainda é um mundo dos homens. Ainda é cobrado mais reconhecimento profissional deles. Às mulheres não é furtado o direito do fazer artístico, mas até que ponto não resiste um ranço de ambiente doméstico para essa arte, um espaço privado apenas. Daí a visceralidade e a contundência da arte de muitas mulheres, o desejo de transpor a barreira do privado, de superar a repressão para a afirmação pública.
Por último: que falta fazem, ainda nos dias de hoje, pais como o de Sofonisba, homens que avalizem e conduzam a saída de suas filhas da redoma edípica materna para o mundo, do espaço meramente privado para uma atuação pública...
|