domingo, 2 de junho de 2013

a moça com chapéu de sacola plástica...


Hendrik Kerstens, não sem motivos, tem muito orgulho da pintura produzida em seu país, sobretudo no século XVII. Diferentemente do renascimento italiano, a pintura holandesa daquela época interessava-se tanto por retratos do dia-a-dia como por cenas religiosas ou mitológicas. As famílias burguesas emergentes da Holanda queriam se ver retratadas da mesma maneira que, anteriormente, era privilégio apenas da aristocracia. 

Por conta do objeto retratado, a pintura renascentista do norte europeu desenvolveu um apuro técnico maior nos detalhes, na representação de perfis e retratos, na instrumentalização da luz. A burguesia e seu quotidiano tornaram-se tão importantes quanto as histórias bíblicas e os ícones da mitologia grega. A moça com brinco de pérola de Vermeer é exemplar como demonstração dessa diferença. 

A peculiaridade da pintura holandesa do século XVII chamou a atenção do fotógrafo Hendrik Kerstens quando ele associou a filha Paula, então com 20 anos, a uma daquelas garotas representadas nos quadros renascentistas holandeses. Um dia Paula chegou em casa com um boné na cabeça; outro dia, vermelha, descascando de tanto sol. Foi aí que Kerstens resolveu posicionar a filha como modelo de seus retratos. Atualizando os ornamentos utilizados por Paula, a série de retratos da filha teve, justamente, essa função dialógica com a tradição pictórica holandesa. Sai a moça com brinco de pérola, entra a moça com saco plástico na cabeça...

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