sábado, 1 de junho de 2013

sem face...


"Without a Face" é o nome do projeto da fotógrafa sueca Izabella Demavlys cuja finalidade é denunciar um tipo específico - porém muito frequente - de violência perpetrada contra as mulheres em países como Afeganistão, Índia, Bangladesh, Paquistão e Cambodia: os chamados "acid attacks" ou ataques de ácido. 

A maioria esmagadora de vítimas desse tipo de ato de violência são mulheres, sobretudo em sociedades onde a condição feminina sofre com a desigualdade de direitos humanos, com a imposição de regras e costumes que ferem sua integridade física e moral. Os ataques de ácido, geralmente, podem ser enquadrados como atos de retaliação a qualquer tipo de atitude afirmativa das mulheres nessas sociedades, seja a recusa a um casamento arranjado, seja a reação contra uma tentativa de estupro, por exemplo. Porém, os depoimentos colhidos por Izabella em 2009 em sua viagem pelo Paquistão demonstram que tais atos bárbaros também são cometidos sem nenhum motivo aparente; algumas das vítimas foram atacadas gratuitamente nas ruas, a caminho do trabalho ou da escola, ou mesmo por parentes próximos, por razões torpes, banais.

As consequências físicas e emocionais de um ataque de ácido é inimaginável, para mim pelo menos. Não falo da dor, que obviamente deve ser atroz, mas do rosto desfigurado, mutilado. O rosto que é nossa representação mais particular e, ao mesmo tempo, mais geral e primitiva de pertencimento social. Aqui não se trata de beleza ou feiura, termos que perdem totalmente o sentido nesse contexto. Trata-se de algo irrecuperável, traços e feições que nos fazem humanos; de uma mutilação que, de acordo com os relatos de Izabella, trazem danos emocionais irreversíveis às vítimas (e se pensarmos no que é exigido das mulheres em termos de cuidados estéticos, beleza, vaidade, tais ataques tornam-se ainda mais cruéis).

Em tempos em que as questões de liberdade religiosa, de expressão, de gênero e orientação sexual vêm provocando debates acalorados e, em muitas situações, reações conservadoras de grupos que ocupam o poder político, minha intenção aqui é a de compartilhar o registro feito por Izabella Demavlys das mulheres paquistanesas vítimas de ataques de ácido. Mesmo ciente de que projetos de arte engajada, como esse, ligados a uma causa social, tenham pouca repercussão no que se refere à mudança de mentalidades. Fazer vista grossa também de nada adianta; fingir que não vivemos num mundo repleto de utopias fracassadas, um mundo complexo e difícil de atuar social e politicamente tendo em vista mais inclusão, mais liberdade, mais igualdade. Sinceramente, sinto-me muito perdido, impotente. 

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