quinta-feira, 13 de junho de 2013

acesso restrito...

Eu iria postar sobre o novo Museu de Arte do Rio de Janeiro, o MAR, que visitei na terça passada. Belíssimo projeto do escritório Bernardes + Jacobsen que junta um antigo prédio do Brasil Império, na praça Mauá, a um edifício moderno, fortemente influenciado pela arquitetura modernista brasileira: brises verdes translúcidas, pilotis, uma cobertura fluida e curvilínea, parecendo um lençol. 

Ouvi e li muita coisa a respeito do super-faturamento em torno da obra que envolve o MAR e toda a reestruturação do pier Mauá, zona portuária do Rio. Sem dúvida, independentemente dos boatos, essas obras são sintomas do predomínio das grandes corporações no mundo das artes. Grandes corporações somadas à descoberta dos políticos brasileiros de que cultura gera visibilidade, sobretudo eleitoral.

Assim como o MAR, temos a Casa Daros, também no Rio. Enorme e maravilhoso casarão em Botafogo, todo restaurado, "bancado" pela coleção suíça de mesmo nome, com ênfase em arte latinoamericana (o bancado foi entre aspas porque, logicamente, também entrou dinheiro público na empreitada).

São espaços de primeiro mundo, incríveis, com restaurantes e cafés e lojinhas de souvenirs muito transadas, bem concebidas, feitas para encantar turistas, da mesma forma que ficamos encantados quando visitamos museus em Londres, Madrid ou Nova York. Abrigam coleções muito representativas, sem dúvida, com exposições também muito bem curadas, como a "Atlas, Suite", de Arno Gisinger e Georges Didi-Huberman (em outro post falo sobre a exibição, que me impressionou muitíssimo bem).

Ao mesmo tempo, o plano de acesso ao MAR, ao acervo, às exibições, diz muito desses projetos. É uma metáfora, ou metonímia, não sei. Temos que tomar um elevador até o terraço - claro, de onde se tem uma vista mega privilegiada e única da baía de Guanabara - e depois ir descendo por escadas de incêndio para visitar as exposições. É um funil, um caminho nada funcional, em que, muito provavelmente, em finais de semana, deva gerar filas homéricas. Acesso difícil, seletivo. Extremamente seletivo, como os 8 reais de entrada. Acesso que contrasta com a fluidez do projeto expográfico concebido por Daniela Thomas e Felipe Tassara para a coleção Bogich - um verdadeiro luxo, uma espiral vazada em que a coleção se desenrola como um pergaminho. 

É, eu disse que iria postar, mas acabei mesmo postando sobre o MAR, o novo Museu de Arte do Rio de Janeiro. Ao longo do texto, me dei conta de que a analogia entre o acesso difícil, restrito, ao museu pode se comparar ao tipo de acesso que grande parte - a maior dela - da população brasileira tem em relação aos equipamentos e bens culturais no país. Se você não é um privilegiado, como eu, que pode ir numa terça-feira à tarde, quando o ingresso é gratuito, e o elevador só carregava eu e mais um casal, então sinto dizer que a espera será longa, o acesso, como um congestionamento de trânsito, lento, travado (bom, a não ser que você tenha entre 6 e 14 anos e esteja cursando o ensino fundamental na rede pública da cidade do Rio; as caravanas escolares são muitas, admito; resta saber se serão contínuas assim como qual trabalho pedagógico é realizado com esses alunos-turistas). 

Ah, me lembrei de mais uma coisa: que 37 milhões de cidadãos no Brasil não têm como pagar pelo transporte público. Matéria de "O Globo" de hoje. Assim fica mais difícil ainda conhecer o MAR. 

PS: Seguem minhas fotos de tele-móvel do lugar (prédio e vista). Inegável, é muito bonito. Desejo 2 coisas em relação ao MAR: que haja, de fato, uma preocupação curatorial com a continuidade da vocação a que se propõe o museu, e não apenas um prédio parcialmente ocupado com exposições de pouca relevância daqui a algum tempo; e, segundo, uma possibilidade de mudança concreta de inclusão cultural em sua proposta e atuação. Eu realmente torço para isso.

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