quinta-feira, 4 de julho de 2013

o alemão e o coiote...

Em 1974, o galerista alemão René Block recebeu em sua filial da East Broadway de Nova York seu amigo e artista representado Joseph Beuys para uma performance de 3 dias. Faltava ainda a Beuys, já então um reconhecido artista conceitual na Europa, conquistar a América. E ele o fez à sua maneira.

Denominada "I Like America and America Likes Me", a obra começa quando o artista alemão desembarca no aeroporto JFK e imediatamente é envolvido num cobertor de feltro e levado de ambulância diretamente para a galeria de Block (primeira foto acima), lugar onde fica confinado por 3 dias junto com um coiote selvagem trazido especialmente para a performance. Munido de uma indumentária especial, a qual se torna símbolo de sua arte - o paletó de feltro, a manta, o cajado de pastor, o triângulo de metal, a cama de palha - Joseph Beuys interage 8 horas a cada dia diante do público dentro do recinto da galeria de arte.

No início, há certa hostilidade entre coiote e artista, que brinca de xamã, gira envolto em sua manta, cajado na cabeça, provoca o animal selvagem. Este reage com pulos, mordidas, avança sobre Beuys, rasga seu manto ritualístico. Com o passar dos dias, porém, animal e homem começam a conviver, coabitar, até que, no último dia, Beuys abraça o coiote, sem que o bicho ofereça resistência. Terminada a performance, o artista alemão volta novamente de ambulância direto para o aeroporto, e então para a Alemanha natal.

Só o que Beuys acaba por conhecer da América é um símbolo selvagem de resistência à colonização e ocidentalização do país, uma América primitiva. Uma América que parece gostar dele. Ou que simplesmente aceita-o em sua indiferença de animal irracional. Resta a alegoria do artista, seu gesto. Seu olhar subjetivo para um país de cultura intrincada e polêmica, principalmente nos anos 70. A opção pela força da metonímia, o todo por uma micro-parte. Uma ressignificação do diálogo entre a velha Europa e a terra das oportunidades, do então novo império capitalista do Ocidente. Uma conversa que se restabelece a partir de um passado primordial, velho também. Mas um passado tido como puro, autêntico e essencial.

Eu gosto de Beuys, de coiotes, e da América. 

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