terça-feira, 16 de julho de 2013

a frieza dos dias...

Audrey Tautou e Romain Duris em "A Espuma dos Dias", de Michel Gondry.  Virtuosismo pelo virtuosismo.
"Não dá pra viver só de obras-primas", já costumava dizer um ex-professor meu de cinema. Ele se referia à própria indústria cinematográfica, sobretudo ao cinema dito de arte. Nem o público aguenta tanta consistência e peso, nem os realizadores têm obrigação de ter esse fôlego. 

O pior dos mundos, a meu ver, é tentar se esforçar, fazer bastante barulho, demonstrar toda uma expertise, e morrer bem antes da praia. É como vi "A Espuma dos Dias", mais recente longa do francês Michel Gondry, adaptado da obra do multifacetado Boris Vian. Soa pretensioso. Melhor baixar a bola, e ralar no roteiro, numa maneira atraente de contar a história.

Ok que Gondry seja fascinado pelo surrealismo, que ele tenha esse pendor e saiba bem como aplicá-lo. Mas até então com base em narrativas orgânicas, sem que, no resultado final da receita, algum tempero tenha se sobressaído mais que o outro, o sabor, amargado. Sempre houve uma pertinência, caso de "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembrança", também um filme sobre uma história de amor que, embora seu caráter onírico e surreal, não perde jamais em lirismo.

O contrário ocorre com "A Espuma dos Dias". É mais direção de arte, animação, efeitos especiais do que roteiro, atuação, história. Transmite o mesmo efeito da espuma, passageiro, efêmero, porém insosso. Mesmo com um elenco de peso - Audrey Tautou, Romain Duris e o ator-humorista Gad Elmaleh -, o longa de Gondry quer ser mais surreal que o "rei" Boris Vian. Não funciona. Um filme de frieza invernal... Winter has already come for Gondry...
 
Cartaz de "Brilho Eterno de uma Mente sem Lembrança", também dirigido por Michel Gondry. Muito provavelmente o roteiro de Charlie Kaufman seja o grande diferencial desse filme, no qual o surrealismo tão apreciado por Gondry foi utilizado em doses precisas. 

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