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quarta-feira, 1 de maio de 2013

o artista não está presente...

Tino Sehgal e seus voluntários performers; acima, registros da obra "These Associations", em cartaz na Tate Modern de Londres no ano passado.
Tino Sehgal é o exemplo mais bem acabado, na minha opinião, do que significa ser um artista no topo da cadeia econômica e criativa da arte contemporânea. Sua obra representou a Alemanha na Bienal de Veneza de 2005, a bienal de maior relevância em termos de chancela crítica da atualidade; entre as inúmeras exposições individuais feitas por Tino recentemente, destaca-se a obra "This Progress", em cartaz em 2010 no Museu Guggeinheim de Nova York; além disso, ele foi escolhido para fazer parte da Documenta XIII, evento que se realiza de 5 em 5 anos na cidade de Kassel na Alemanha, o qual ocupa a cidade toda com a vanguarda da vanguarda da arte contemporânea e suas conexões com releituras do passado (em Kassel, Tino apresentou "This Variation", no porão de um hotel). No ano passado, foi a vez da Turbine Hall da Tate Modern em Londres, com "These Associations". E, ontem, Tino foi um dos artistas anunciados na lista de 4 concorrentes ao Turner Prize, o mais importante prêmio de arte contemporânea do Reino Unido, e um dos mais badalados do mundo das artes. Em resumo, Tino Sehgal está na crista da onda, no ápice. 

No entanto, o mais intrigante em tudo isso é nos voltarmos para o trabalho de Tino Sehgal, para seu suporte, seu conceito. Como uma obra foi capaz de conquistar tantos símbolos de reconhecimento do mercado e da crítica internacionais sem ser passível de aquisição, seja por um acervo de museu ou coleção particular?

Tino Sehgal trabalha na fronteira entre performance, teatro e dança, recrutando voluntários que atuam no espaço entre regras demarcadas e improviso. Nada mais intangível. Na Documenta XIII, bastava o visitante seguir um mapa para se deparar com o Grand City Hotel Hessenland. A cada 2 horas, no porão do prédio, "This Variation" acontecia. O espectador adentrava um ambiente completamente escuro e, aos poucos, acostumava-se à atmosfera ao redor. Havia sons, barulhos, vocalises e histórias sendo contadas por indivíduos que já estavam ali dentro. Havia movimentos coreografados, corridas, paradas bruscas, aproximações inesperadas junto ao público. Ao final, as luzes acendiam-se completamente: 20 performers voluntários cantavam Good Vibrations dos Beach Boys, enquanto saíam por uma porta lateral. Puff, fim da obra. E começo de outra. Quem eram os espectadores e os agentes da obra de arte: público ou performers? Ambos? Uma obra que se dava à fruição por conta da experiência coletiva do momento e, a posteriori, pelas memórias que se formaram em cada um dos participantes, nas emoções suscitadas. 

Com "These Associations" não foi diferente. O grande salão industrial da Turbine Hall da Tate Modern não era ocupado por nenhuma instalação gigantesca, nem por esculturas ou conjunto delas. Havia apenas pessoas, parte deles um grupo de uma dezena que se movimentava feito um cardume de peixes - aglutinava-se em movimentos febris e separava-se a esmo repentinamente. Nesse movimento de dispersão, os "artistas" abordavam o público com depoimentos íntimos os mais variados, "minha irmã está se recuperando de um câncer", "minhas histórias de amor foram um fracasso", "sofro de claustrofobia", "foi um choque minha chegada à Inglaterra". Viam-se alguns espectadores retornarem esses depoimentos com os seus próprios. Diálogos estabeleciam-se, mas não eram obrigatórios que acontecessem. E então o cardume voltava a se movimentar pelo salão, em movimentos aleatórios, ao som de algum oratório clássico. 

Não posso escrever aqui a minha impressão pessoal sobre a obra de Tino Sehgal. Nunca estive em uma delas, só soube dessas experiências a partir de artigos de jornal, de críticos, de depoimentos de outros. Em comum, a pulga atrás da orelha, o gatilho puxado, "por que fiquei tão mexido com uma experiência aparentemente tão banal?" Afinal, não há obra de arte, no sentido estrito do termo, na obra de Sehgal. Há um compartilhamento de emoções, há uma experiência, uma vivência coletiva, já que não se pode falar também num espetáculo de teatro ou de dança, no sentido convencional. O suporte e a técnica desses experimentos são pessoas e a interação entre elas. Só. Um embaçamento da fronteira do que é considerado arte que produz o combustível mais potente para as turbinas da arte contemporânea: ser, simultaneamente, questionável e encantador. 
(abaixo, registro em vídeo de "these associations"...).

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Sobre o blog


Esta é a minha segunda investida no universo blogueiro. Por uns 2 anos e pouco, tive uma experiência gratificante com o “marcosnocinema”, um blog sobre crítica de cinema, como o próprio nome indica.

Por motivos vários, ele foi interrompido, e depois houve uma tentativa frustrada de um blog que nunca chegou a ser publicado (uma das milhares de idéias que todos nós temos e, como bons Bartlebys que somos, ficam apenas na intenção).

The art i live in” estava em gestação há algum tempo. Posso refazer o seu percurso ao revés, desde o ano passado, quando embarquei para a Austrália numa viagem sabática. O isolamento e a solidão acabam sempre por trazer à tona coisas boas também (digo “também”, porque carregamos todo o resto conosco, e portanto as coisas não tão boas sempre vêm a reboque). E provavelmente a coisa mais rica que essa viagem pode ter me proporcionado foi o meu encontro com a fotografia – via uma câmera de celular de um iphone 4 – e as artes visuais, protagonizadas em Melbourne e Sydney pela street art, pelos grafites, lambe-lambes, stickers e afins. Encontro um pouco heterodoxo esse, e talvez um pouco frágil por conta de cada uma das partes (afinal, não tinha comigo uma câmera com recursos tecnológicos satisfatórios, nem tampouco a arte de rua é vista com bons olhos como bom exemplo de contato maior com as artes visuais).

De qualquer forma, é bom eu me lembrar que essa conexão sempre existiu – entre mim e as artes visuais. Ou melhor, entre mim e arte em geral. Porque a gente sempre tem a mania de apagar o que veio antes. E não foi pouca coisa, no meu caso. Morei na Alemanha por quase 3 anos para terminar um doutorado; sempre fui um super cinéfilo; não consigo abandonar o objeto “livro”, adoro TV; a música está sempre presente. E minha carreira profissional, nos últimos anos, agregou o que restava sobre gêneros artísticos à minha bagagem já razoavelmente de peso. Talvez as artes plásticas – ou artes visuais – fossem a lacuna maior, mais recente, a ser preenchida.

Tudo isso junto e misturado, faltava-me a iniciativa de deslanchar esse projeto, de botar esse blog no ar, pra falar, da minha perspectiva, sobre arte em geral. Cabe literatura, série de TV, documentário, exposição, design, musica, filme de arte ou blockbuster, dança, arte eletrônica, moda, enfim, tudo o que me brilha o olho, mas que precisa de alguma filtragem para permanecer colado na retina.

Embora pretenda colocar sempre meu ponto de vista, quero fazê-lo de um modo claro, para que o leitor saiba explicitamente quais são minhas hipóteses, as bases de cada discurso ou texto. Digo isso porque quero muito a participação e a colaboração de todos eles, de todos os que irão despender um pouco do seu tempo para ler os posts ainda por vir.

Também pretendo amealhar o máximo de colaboradores possíveis para encorpar esse blog, pra criar um fluxo intenso de informações e opiniões. Sempre sem perder de vista a concepção inicial de que não há intenção alguma de busca de verdades ou julgamentos, mas sim de exposição de pensamentos críticos a serviço da organização e significação de todo esse enorme emaranhado de informações, imagens, notícias, fatos, eventos, conteúdos e formatos nunca antes visto na história da humanidade.

Se arte é uma linguagem, um discurso, que busca através de seus meios materiais dar um pouco de ordenação e sentido ao mundo ao nosso redor, e, sobretudo, se acreditamos nela, este blog vai ter muito trabalho pela frente. Bem-vindos.