Mostrando postagens com marcador bienal de veneza. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador bienal de veneza. Mostrar todas as postagens

sábado, 13 de abril de 2013

sete dias no mundo da arte...

A historiadora da arte e socióloga canadense Sarah Thornton e seu livro "Sete Dias no Mundo da Arte".


Obra do artista italiano Maurizio Cattelan, denominada "Cavallo  in Tassidernia", hoje no Museu de Arte Moderna de Frankfurt, e capa da edição brasileira do livro de Sarah Thornton (muito bem escolhida, por sinal, pois a obra de Cattelan é muito representativa da ambivalência do mundo da arte contemporânea, flertando entre a provocação, o mau-gosto e o embuste).

Por que o mercado de arte sofreu um aquecimento sem igual na última década e meia? Por que obras de arte, sobretudo as contemporâneas, atingem cifras milionárias em leilões? Qual o papel da crítica, dos curadores e museus, dos prêmios, das feiras e bienais, da relação entre galeristas (ou marchands) e artistas? De uma outra perspectiva, por que o mundo da arte tem se tornado tão popular, acessível na mídia, também por meio de uma programação cada vez mais variada e extensa de exibições nas grandes cidades, num número crescente de galerias, artistas e publicações a respeito?

A socióloga e historiadora da arte canadense Sarah Thornton se debruçou sobre todas essas questões em seu livro "Sete Dias no Mundo da Arte: Bastidores, Tramas e Intrigas de um Mercado Bilionário", no Brasil, publicado pela Agir. 

Analogamente a seus primeiros livros, sobre cultura da noite - raves, boates e nightclubs - e cultura de rua, Thornton, como uma observadora ativa, participa, durante alguns dias, de sete etapas fundamentais da cadeia produtiva do mundo da arte contemporânea. A visita, junto com dois marchands e curadores da Califórnia, ao atelier do escultor japonês Takashi Murakami, para conferir a produção de uma escultura monumental de cinco metros, chamada "Oval Buddha", a ser exibida numa retrospectiva do artista no Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles; um leilão de arte da Christie's de Nova York; a participação na principal feira de arte contemporânea do mundo, na Basiléia, na Suíça, a Art Basel; a passagem pela prestigiosa escola de artes norte-americana, o California Institute of the Arts; o acompanhamento da entrega do cobiçado prêmio Turner na Tate Gallery de Londres; a produção da Artforum, a mais importante publicação de textos críticos do mundo da arte; e, por fim, juntou-se aos experimentos estéticos e às vanguardas contemporâneas apresentadas na Bienal de Veneza, um dos cenários de respiro e renovação das poéticas artísticas. 

Por meio de entrevistas e depoimentos de atores-chave no mercado e mundo da arte, assim como de sua própria observação crítica, Thornton elaborou uma crônica irônica e inteligente sobre a complexa dinâmica desse sistema. Um sistema que, se por uma lado, atrai a cobiça de especuladores, colecionadores, galeristas e instituições culturais, também chama de forma crescente a atenção do público em geral. Afinal, estamos mais educados e informados; estamos lendo menos e vendo mais (youtube, internet, revistas de moda, de design, e afins); e a arte é uma espécie de idioma universal, como a música, abrangente em sua fala e, mais ainda, permissiva em suas influências. 

Depois que a separação entre arte erudita e popular desfez-se e que o papel do curador e do galerista, mais do que o do crítico, tomaram uma preponderância fundamental na inserção e valorização da obra de um artista contemporâneo no mercado, a visão "senso comum" do mundo da arte acirrou sua conotação de embuste, de artificialidade, de truque, egos e, como propósito final, o fazer dinheiro. Thornton não fecha os olhos para isso. Muito pelo contrário. Sua grande contribuição, no entanto, diz respeito mais a um mundo que funciona segundo regras muito peculiares e próprias - algumas delas totalmente afinadas às do capitalismo moderno -, mas que têm em sua raiz a criação artística, de ideias e formas, em torno da qual há camadas de pessoas excêntricas, cultas, outras anacrônicas, e outras ainda deslumbradas e superficiais, todas eles - artistas, curadores, galeristas, críticos, colecionadores, jornalistas, leiloeiros, designers, produtores - compondo um mundo complexo e, sem dúvida alguma, fascinante.