segunda-feira, 26 de agosto de 2013

ciência, ética e estética...

Um livro que recomendo fortemente àqueles interessados em se aprofundar em fotografia, para aqueles que apreciam e sobretudo tiram, fazem e analisam fotografia, mesmo que por hobby ou paixão, é "Filosofia da Caixa Preta" de Vilém Flusser. Editado pela Annablume e curtinho - pouco mais de 100 páginas - "Filosofia..." tem um texto direto e enxuto. Muito claro nos objetivos pretendidos pelo autor. Traçar conceitos e categorias para uma filosofia da fotografia - e aí vou mais longe, penso que Flusser lança sementes para uma epistemologia da fotografia: história, sociologia, economia da fotografia, como a arte e o fazer fotográfico são influenciados e influenciam a cultura contemporânea. 

Sem notas de rodapé ou citações - algo raríssimo num ensaio teórico - Flusser afilia-se a uma certa corrente bressoniana da fotografia como roubo, caça ou captura. Vai muito mais longe, ao enfatizar a relação essencial entre fotógrafo e câmera fotográfica, como essa relação é determinada pela afinidade e conflito entre quem aperta o botão - uma subjetividade com conceitos na cabeça - e o aparato tecnológico que processa a imagem capturada em formato ampliável e reproduzível. Não se trata aqui apenas de domínio sobre a tecnologia, mas sem dúvida Flusser afirma que o fotógrafo precisa ter essa noção de quais técnicas estão a seu dispor, sob seu domínio, inclusive como prováveis recursos ainda inexplorados e passíveis de resultarem em falhas (o que não obrigatoriamente significa algo ruim ou indesejável). 

Outra consideração relevante: uma foto, apesar de ser apenas um pedaço de papel bi-dimensional, ela, muitas vezes, não cria ou faz sentido sozinha. Isso porque a riqueza de seus elementos estão relacionados a 3 dimensões: à própria realidade, a uma posição política ou comportamento, e a um dever ser da imagem, a uma busca estética. Portanto, Flusser fala sobre obra fotográfica, um conjunto inter-relacionado, tanto mais rico e significativo quanto mais conseguir enlaçar esses 3 aspectos, quantitativa e qualitativamente. 

Entre 1969 e 1988 o fotógrafo Joseph Szabo registrou adolescentes norte-americanos. Em branco e preto, em diferentes texturas, situações, suas fotos poderiam se distribuir em diversas categorias - foto-jornalismo, crônica geracional, crítica cultural, registro de comportamento, proposta estética, enfim, seu conjunto - aqui, apenas destacado em 8 fotografias - transitariam com desembaraço por vários meios como jornais, revistas, livros, ou as paredes de uma galeria de arte. Um exemplo de fotografia em termos flusserianos... 

Nenhum comentário:

Postar um comentário