sábado, 17 de agosto de 2013

ator bom mente...

A personagem mais famosa de Norma Jean chamava-se Marilyn Monroe. Uma mulher que se tornou rapidamente estrela de Hollywood sem saber se por conta de sua beleza e sensualidade ou por seu real talento como atriz. Norma Jean/Marilyn sofria com essa dualidade. Era algo que a desequilibrava internamente, embora fosse a fonte de seu carisma e charme com intérprete. 

"Sete Dias Com Marilyn" (2011), co-produção anglo-americana, narra um acontecimento real na carreira da atriz. Em 1956, ela viaja a Londres para filmar com o ator britânico Sir Laurence Olivier a película "O Príncipe Encantado". Marilyn vai acompanhada de seu recente marido, o dramaturgo Arthur Miller, e, àquela época, já era um ícone popular. Ao contrário de Olivier, um ator shaskesperiano respeitado no meio erudito. Obviamente que o encontro entre os dois acaba por gerar um enorme conflito - o ator vaidoso e cheio de si, orgulhoso de sua formação apurada, e o símbolo sexual, instintivo e frágil, indomável em seu carisma e sexualidade. Olivier desqualifica Marilyn porque ela é bonita, insegura, autêntica e - sobretudo - talentosa de uma maneira distinta da sua. Um outro cultivo, um outro tipo de vocação (curioso que, após as filmagens, Olivier retorna aos palcos revigorado, em uma peça de grande repercussão de crítica, enquanto Marilyn filma "Quanto Mais Quente Melhor", de Billy Wilder, considerado por muitos o ponto alto de sua carreira; apesar da hostilidade e estranhamento, ambos conseguem tirar proveito das 4 semanas de convívio turbulento).

O filme de Simon Curtis, porém, centra-se no depoimento do então jovem Colin, terceiro assistente de direção dos estúdios Pinewood que, no final de sua vida, conta em livro a experiência de convívio próximo com Norma Jean e Marilyn quando das filmagens de "O Príncipe Encantado". Porque Colin conhece as duas - a estrela e a mulher que a interpreta. Aquela que nunca soube quem era seu pai, que não pôde ser criada pela mãe, que sofria intensamente com a projeção causada por sua beleza, com a imagem de fêmea fatal e, ao mesmo tempo, de loira burra pela qual era rotulada. Adoração e rejeição sentidos intensamente, sem que ela soubesse diferenciar os lugares desses afetos (pois como diz a lei da física, dois corpos - dois sentimentos/afetos - não podem ocupar o mesmo lugar no espaço).

"Sete Dias com Marilyn" chega a ser repetitivo no que se refere à lente aumentada que coloca sobre a atriz-fetiche - talvez a de aura mais poderosa entre as estrelas de cinema. Só que esse aparente defeito oferece o espaço e o tempo necessários para que Michelle Williams nos dê uma Marilyn multi-facetada, porém sempre numa chave mais grave, abaixo do que poderíamos imaginar. Sabemos que é uma interpretação de Marilyn, embora não vejamos Michelle naquele corpo, naquele personagem. Aí, nesse equilíbrio tênue e delicado, entre a fantasia e a realidade, é que, como espectadores, podemos conhecer as cores possíveis de Norma Jean/Marilyn. Não as reais ou verdadeiras, as verossímeis e críveis, essas sim. Sem necessidade de caricatura, excessos, sem bancar a pomba-gira possuída pelo mito.

(Não à toa apresento aqui minha descrença na técnica de preparação de atores ou não-atores exaustivamente empregada no cinema brasileiro, por meio da qual tenta-se apagar a identidade do ator/atriz e suas experiências para que ele vista a pele de uma personagem real e, assim, torne-a mais verdadeira. O que vemos, como resultado, são "platitudes", banalidades. Atuar é uma mentira sem tamanho, assim tenho cá pra mim).

("Namorados para Sempre" e "Entre o Amor e a Paixão" já tinham confirmado, pra mim, o talento da atriz Michelle Williams; "Sete Dias com Marilyn" deixaram-me, agora, encantado com sua figura).

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