Susan Sontag por Annie Leibovitz |
Sontag cita Oscar Wilde como introdução: "somente as pessoas superficiais não julgam pela aparência. O mistério do mundo está no visível, não no invisível". Para encerrar o texto, ela faz o seguinte chamamento: "em vez de uma hermenêutica, precisamos de uma erótica da arte" (por hermenêutica, de modo geral, entenda-se o ramo da filosofia que estuda a teoria da interpretação).
Ou seja, em vez de seguirmos interpretando, impondo e contrapondo nossas opiniões, que tal abrirmo-nos a uma educação dos sentidos, a uma relação sensorial e afetiva com a arte? Afinal, ela só existe como tal na medida em que toma uma forma. Ela pode até querer se relacionar com um invisível, com o espiritual, mas não vai escapar de uma representação material. E para apurar o olhar para a experiência artística é preciso tempo, atenção, contemplação, um deixar se levar pela divagação. É preciso não querer nada daquela obra, daquela matéria. É preciso ser pacientemente desinteressado. Para permitir que um certo desejo nasça desse encontro. Um encontro sem pré-julgamentos e opiniões conformadas. Um encontro ordinário, carnal, um encontro precário, uma trepada rápida num banheiro público ou uma foda homérica num hotel 5 estrelas. Um encontro arriscado, perigoso e, por isso, erótico.
Paixão, perigo, disponibilidade, distração, desinteresse, paciência, os ingredientes fundamentais da receita libertária de Walter Benjamin para diferenciar uma vivência banal de uma experiência de vida. Sontag retoma essa vertente, afilia-se a ela, ao questionar por que a necessidade de tantas explicações, de tanta interpretação, de tanta opinião formada sobre tudo. Eu tenho minha hipótese: crescemos a valorizar as garantias, segurança e estabilidade. Pagamos um preço. Onde cabe o desejo nessa ordem de valores? Muito pouco espaço para qualquer erótica...
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