Desenho sobre papel com técnica de pólvora queimada: aves brasileiras retratadas em obra feita por Cai-Gio Qiang aqui no Brasil, especialmente para a tournée dessa exposição. |
Permito-me pular essa dicotomia com o argumento de que ambos, tanto Ai Weiwei quanto Cai Guo-Qiang, são artistas já renomados e incorporados pelo mercado da arte contemporânea. São internacionalmente reconhecidos, exibidos e vendidos. Portanto, denominar um, oposicionista, e o outro, situacionista, funciona muito mais como apelo de marketing do que qualquer outra coisa. Rixas são sempre bem-vindas na feira das vaidades do mundo das artes.
O que distingue a auto-promoção e o caráter proposital e artificialmente crítico da obra de Ai Weiwei - um self-made man da controvérsia - do trabalho de Cai Guo-Qiang é que, este último, vale-se sem pudores das tradições artesanais e artísticas da cultura chinesa - seja o desenho em pólvora queimada, milenar, seja a coleção de gadgets e invenções criadas por centenas de camponeses chineses, coletadas e comissionadas por Cai ao longo dos anos.
A seção dos "robôs-artistas": primeiro, o que remete à experiência criada por Yves Klein e a tinta azul; abaixo, o robô Jackon Pollock. |
Boneco movido por controle remoto: os brinquedos ficaram dispostos no "cofre" do CCBB. Esse, em especial, me lembrou o chucky, brinquedo assassino. Quando se move, é bem freaky... |
Ao efetuarem, cada um a seu modo, essa ponte Ocidente-Oriente, Ai Weiwei e Cai Guo-Qiang estão mais irmanados do que gostaria a imprensa marrom especializada que tanto afã pela polêmica tem. Já falamos da obre de Weiwei aqui no blog. Sobre a obra de Cai - mais especificamente, sobre a exposição que fica até amanhã no CCBB de São Paulo, "Da Vincis do Povo" - gosto do caráter de brinquedo que ela tem. As pipas, populares e tradicionais tanto na China como no Brasil, e as engenhocas e robôs saídas de um gabinete de invencionices e curiosidades. Curiosas e engraçadas, elas também podem ser conceituais, dialogar com a arte contemporânea ocidental, sem perder o tom de ironia e graça, como os robôs artistas que imitam os estilos de autores como Jackson Pollock e Yves Klein. Uma obra de múltiplas vozes. Contemporâneo e bastante chinês.
(ps. todos os registros fotográficos aqui foram feitos por mim e meu iphone...).
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