quinta-feira, 16 de maio de 2013

to be continued...

Germain é o personagem de Fabrice Luchini em "Dentro da Casa", o professor de literatura de um liceu francês, entediado e desencantado com seu trabalho, seu casamento. Sua postura cética e, mais ainda, cínica diante do mundo ao seu redor o levará a viver a realidade como uma ficção sem volta, com um desfecho patético e risível.  
Por mais irregular que a obra do diretor francês François Ozon seja, ele raramente faz feio. Pelo contrário, alguns de seus filmes são muito caros a mim. Pequenas obras-primas. É isso: pela quantidade de sua produção, invejável para um realizador novo, de apenas 45 anos, Ozon já coleciona pequenas obras-primas. Gosto da leveza do adjetivo "pequenas". Pois, por mais que seus temas sejam inesperados e nada moralistas no sentido conservador da palavra, são filmes nos quais nos vemos muito próximos dos personagens, das histórias contadas. Talvez caiba o "moralista" no sentido ético: Ozon é um libertário. Ele não julga suas criaturas; ele se solidariza a elas, sem infantilizá-las. 

"Dentro da Casa" (2012) segue a tradição ozoniana. Seus personagens sofrem calados, incomunicáveis, por viverem o tédio do aburguesamento das relações humanas do mundo moderno desenvolvido; porém, diante de um desejo irreversível de mudança, diante do acaso, eles acabam perdendo absolutamente o controle; deixam-se levar, serem levados. 

O que mais me chama a atenção em "Dentro da Casa" é a crítica contundente daqueles que buscam na arte um tipo de redenção, de transcendência que, nos dias de hoje, não passa, a meu ver, de uma grande forçacão de barra. Uma camuflagem, um disfarce pseudo-intelectual e cínico para abismos interiores. Pois se não temos experiências próprias, um repertório, um mundo interior, não há arte conceitual chinesa nem literatura russa que dê jeito.

PS-"To be continued" é a expressão que conecta os capítulos da narrativa de "Dentro da Casa". Mas também pode ser visto como um mote da própria obra de Ozon... Ainda vem muita coisa por aí...

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