Sonja, a garota que insiste em escrever o ensaio para a escola, descobre, aos poucos, o tanto de participação surda que o silêncio obstinado dos habitantes de Pfilzing escondia sobre a perseguição nazista aos judeus na época da II Grande Guerra, e o quanto seu entorno, a cidade em que ela cresceu, buscava lhe roubar o direito de saber sobre o ocorrido. Uma das revelações mais decepcionantes para a jovem foi tomar conhecimento da quantidade de objetos de arte, utensílios domésticos, de porcelana, de prataria, roupas, que haviam sido confiscados das casas judias antes que seus moradores fugissem ou fossem deportados ou mandados para campos de concentração. Saber que aquela suposta jóia de família pertenceu, na origem, a outra família, era entrar em contato com um nível de impostura, de mentira, até então nunca acessado pela menina.
Saca-rolhas e livros inventariados em 1973, na cidade de Baden Baden, Alemanha, confiscados, entre outros objetos, de uma mulher judia. |
Pode-se pensar a obra de Boltanski como um olhar melancólico sobre o passado e a memória. Entretanto, tenho mais afinidade com a própria definição do artista sobre seu trabalho: o absurdo e a tolice da existência dos objetos quotidianos na vida dos indivíduos - no caso, destroços e restos de um quotidiano; ou, mais além, um quotidiano destroçado. Como se, ao falarem, tais objetos denunciassem simplesmente quão mais fácil é estar morto do que vivo.
Camiseta de Francis C., o retratado, encontradas em 1972. |
Objetos encontrados nos esgotos de Zurique, Suíça, em junho de 1994. |
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