Da esquerda para a direita, Taissa Farmiga (Sam), Israel Broussard (Marc), Emma Watson (Nikki), Katie Chang (Rebecca) e Claire Julien (Chloe). |
Coppola, ela mesma uma celebridade, pela genealogia, pelas afinidades com o mundo da moda e a cultura pop-indie, tem apreço pela temática. Depois de uma atuação duramente criticada como a filha de Don Corleone em "O Poderoso Chefão 3" (1990), último filme da trilogia dirigida por seu pai, Francis Ford Coppola, Sofia passou a colocar o cinema de lado, e abraçou a moda. Virou designer de sapatos, fez amigos por lá, como Marc Jacobs, com quem trabalhou, e, inevitavelmente, suas conexões afetivas permaneceram num mundo já familiar - os cultivados, cults e bacaninhas.
Até voltar ao cinema pelo lado de trás das câmeras, como roteirista e diretora. "As Virgens Suicidas" (1999) é sua estreia em longas-metragens, estrelado por Kirsten Dunst, uma das suas atrizes-amigas, com quem também roda "Maria Antonieta" (2006). Coppola carrega para seus filmes toda a bagagem da cultura pop high-class na qual sempre esteve mergulhada, a moda, a preocupação com uma trilha sonora de efeito, personagens "iguais a ela", equipe técnica de amigos, e um certo vazio existencial a mover seus personagens, ora em busca de um sentido novo, ora em busca de um certo escapismo, uma alienação desejada.
"Bling Ring" é radical nesse último sentido, o da alienação e do escapismo. Seguindo rente à reportagem da Vanity Fair sobre a gangue de Hollywood, Coppola opta por um retrato da história pela perspectiva da ficção jornalística. Há até uma certa "desglamourização" dos personagens e, consequentemente, da narrativa. Com exceção de Marc (Israel Broussard), o único homem - apesar da indefinição sexual - e o menos inconsciente do grupo, as demais garotas encontram-se atoladas até o último fio de cabelo alisado na lama da frivolidade.
Não há sequer um frio na barriga, provavelmente o medo de serem pegos pela polícia, ao entrarem sem serem convidados nas casas de famosos de onde furtavam jóias, relógios, sapatos, vestidos, jaquetas, tudo chanel, bulgari, balenciaga, rolex, lv, balmain, rick owens, herme's e afins. Ao mesmo tempo em que os donos de todos esses objetos fetichizados pela gangue - e por todos nós, em alguma medida ou grau -, são considerados ícones pelo grupo, há uma dose de inveja que justifica suas ações: eles têm tanto, e de tudo, que não irão dar por falta; já nós, não; nós precisamos ser legitimados como personalidades "A-list" seja na escola ou na balada. E, para tanto, nada de medir esforços para ostentar uma enxurrada de marcas.
Num dado momento do filme, Marc, ao ser entrevistado pela repórter da Vanity Fair, compara a gangue a Bonne e Clyde, o casal de foras-da-lei que aterrorizou o Texas no período da Grande Depressão americana (anos 30), e que morreu numa emboscada policial depois de conquistarem as manchetes dos jornais da época. Símbolos da luta desesperada pela fama - Bonnie sonhava ser estrela da Broadway, enquanto Clyde, temido como grande homem do crime -, o personagem de Marc afirma à jornalista que a América parece nutrir um fascínio por esses tipos. Há, porém, uma diferença considerável entre o duo texano e a gangue do deslumbre: o primeiro, numa época de vacas magras, falta de perspectivas, e sonhos a serem alcançados, vivem perigosamente como forma de se libertar, a qualquer preço, de uma situação de mesmice (havia uma consciência dos dois, num dado momento, de que não haveria volta nem perdão); já a gangue das grifes não possui essa rebeldia, nem mesmo a adrenalina; há uma banalidade tão grande em seus delitos, na forma em que os encaram, que, mesmo com todo o risco iminente de serem colocados atrás das grades, uma das meninas só consegue dizer, eu preciso de uma bolsa chanel nova pra hoje. Bora então pegar uma na casa de Paris...